Hirtenstein (SHCI) – al-Wahid al-Ahad (Um e Único)

Que será que Ibn Arabi quis dizer exatamente com Realidade ou Unicidade? Para ele, Unicidade é simplesmente a primeira característica ou Nome desta “Origem” de todas as coisas. Designando-A como Um é o melhor modo de referir-se a Ela, mas isto não A explica nem A descreve. A Realidade essencial não pode ser nomeada ou descrita, e permanece fundamentalmente incognoscível. Para Ibn Arabi, o Um e o Único (al-Wahid al-Ahad) é a descrição mais apropriada desta Realidade essencial, pois Ela é em Si Mesma. Em árabe este é um nome duplo, em que ambas as partes significam “um”. Segundo ele, este Nome duplo expressa um único significado de Unidade ao mesmo tempo em que assinala uma distinção dentro da Unidade.

O primeiro dos Nomes é al-Wahid al-Ahad (Um e Único) que é um Nome composto como Baalbek ou Ramhurmuz ou al-Kahman al-dkahim (o Todo-Compassivo e o Mais Misericordioso)… Esse nome assinala a verdadeira Essência da Ipseidade, não como uma relação pela qual Ele é qualificado… Ο Wahid al-Ahad é um Nome essencial para Ele.1

Nenhuma outra descrição tem a mesma primordialidade essencial. É o ponto inicial de seus ensinamentos, da mesma forma que (em nossa analogia original) sem a única fonte de água brotando da terra não havería um ponto de encontro para os animais. E esta singularidade que determina a total inclusão. É o que se quer dizer com o termo “Ele” ou “a Ele” (hu), indicando que a realidade essencial está além de todos os nomes e qualificações. Neste nível de singularidade, Ele não tem gênero, livre de qualquer sentido de masculinidade (ou feminilidade) que aparece entre as criaturas. Em árabe o pronome de terceira pessoa pode ser traduzido pelo “o” ou por “ele”, mas refere-se essencialmente à pessoa ausente, em contraste com “eu”, “você” ou “nós” que estão presentes. Embora ausente, este “Ele” denota aquele com o qual temos um relacionamento direto e bastante íntimo, como os animais que individualmente vêm beber da fonte. Ibn Arabi descreve este grau de “Si Mesmo” como “o Oculto essencial que não pode ser contemplado, uma vez que não é manifesto nem é um lugar de manifestação. E Aquele que é verdadeiramente buscado, a quem a línguaexpressão”. (Futuhat)


  1. Fut. 11:57 e 12:176 (OY), capítulo 73, questão 24. A primazia ou a primor-dialidade depende de nosso ponto de vista. Por exemplo, ele também especifica no Fut. 1:100 (2:128 OY) que “o primeiro dos Nomes ‘mundanos’ são dois, o Um que organiza (mudabbir) e o Um que diferencia (mufassil)”, esclarecendo que estes são os que exigem a existência do mundo ou cosmo. Aqui ele está focalizando os Nomes na medida em que eles exigem o mundo ou cosmo para que sejam realizados; enquanto Unicidade em Si não tem necessidade do mundo. Ver também SPK, p. 390 n. 17.