Ibn Arabi (SP) – Da sabedoria divina no verbo adâmico §3

Assim este ser (adâmico) foi denominado Homem (insan) e Representante (khalifah) de Deus. Quanto a sua qualidade de homem, ela designa sua natureza sintética (contendo virtualmente todas as outras naturezas criadas) e sua atitude a abarcar todas as Verdades essenciais. O homem é para Deus (al-haqq) aquilo que a pupila é para o olho (a pupila se chama em árabe “o homem no olho”), a pupila sendo aquilo pelo qual o olhar se efetua; pois por ele (quer dizer pelo Homem Universal) Deus contempla Sua criação e lhe dispensa Sua misericórdia. Tal é o homem ao mesmo tempo efêmero e eterno, ser criado perpétuo e imortal, Verbo discriminante (por seu conhecimento distintivo) e unificante (por sua essência divina) (Nota). Por sua existência, o mundo foi finalizado. Ele é para o mundo aquilo que o engaste é para o anel: o engaste porta o selo que o rei aplica sobre os cofres de seu tesouro; e é por causa disto que o homem (universal) é denominado o representante de Deus, do qual salvaguarda a criação, como salvaguardam-se os tesouros por um selo: enquanto o sinete do rei se encontrar pousado sobre os cofres do tesouro, ninguém ousará abri-los sem sua permissão; assim o homem se vê confiar a salvaguarda divina do mundo, e o mundo não cessará de ser salvaguardado enquanto este Homem Universal (al-insan al-kamil) habitar nele. Não vês portanto que quando ele desaparecer e que for retirado os cofres deste mundo aqui de baixo, nada daquilo que Deus aí conservava não restará, e tudo aquilo que eles continham sairá, cada parte reencontrando sua parte (correspondente); o todo se transportará no outro mundo, e (o Homem universal) será o selo sobre os cofres do outro mundo perpetuamente.

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