Excertos de “Le Notions philosophiques”. PUF, 1990.
No budismo indiano, há no espaço aparentemente sem limites inumeráveis “elementos de mundo” (loka-dhatu), todos semelhantes ao nosso. Cada um deles é formado por uma espécie de cilindro vertical sobre a face superior do qual habitam os homens, os animais, os fantasmas famintos (preta) e certos deuses, e no interior do qual estão cavados os infernos (niraya). Acima se escalonam os paraísos aéreos dos deuses celestes, o sol, a lua e os outros astros que gira ao redor do eixo do cilindro, mas precisamente ao redor da imensa montanha axial denominada Meru (vide ) ou Sumeru. Este cilindro é composto de três partes separadas por planos horizontais: a do alto formada de terra, a do meio de água e a de baixo de ventos turbilhonando a grande velocidade, o que garante a estabilidade do conjunto no espaço. Cada elemento do mundo passa por quatro fases sucessivas e de uma duração extremamente longa: inicialmente reduzida durante muito tempo a sua parte superior mais sutil, a saber os palácios aéreos e divinos mais elevados, se reconstitui em seguida pouco a pouco e muito lentamente do alto para baixo; quando se torna completo, dura assim milhões de anos; enfim se destrói pouco a pouco, de baixo para cima, sob o efeito de diversos cataclismos causados pelo fogo, a água e o vento, depois do que todo o ciclo recomeça, e assim indefinidamente. Nosso elemento de mundo não é de modo algum privilegiado em relação aos outros, não ocupa no espaço um lugar central, que não se saberia definir, e todos os outros são povoados exatamente como ele. Embora o Buda tenha desaconselhado seus discípulos de discutir para saber se o mundo era finito ou infinito, de duração limitada ou eterna, os budistas parecem ter sempre acreditado que o universo é sem limites no tempo como no espaço, em consequência do que sempre rejeitaram deliberadamente qualquer ideia de criação.