Boehme desenvolveu continuamente sua explicação sobre as qualidades e os elementos que permitiram que Deus criasse o cosmos como “Espírito” e “Palavra”. Em sua concepção, os primeiros produtos da fissão divina interagem para dar origem a sete “espíritos-fonte”. Esses espíritos, então, reagem continuamente uns com os outros para dar origem a todas as coisas físicas do cosmos. O nascimento da Divindade e o nascimento da natureza como manifestações físicas de Deus são processos simultâneos que permeiam um ao outro (figura abaixo). O número sete desempenha um papel importante na Bíblia, como nos sete dias da Criação, e é para Boehme um importante princípio de organização. Ele relaciona seus sete “espíritos-fonte” com os sete “espíritos” mencionados no Livro de Isaías (11:2) e com muitas passagens do Livro do Apocalipse que se referem a sete aspectos de Deus.
Para explicar as interações dos espíritos-fonte, Boehme imagina um tipo de gerador cósmico. Nessa construção, os espíritos das fontes aparecem como sete rodas que giram umas dentro das outras. É provável que Boehme tenha tirado essa imagem do profeta bíblico Ezequiel (1:4), que teve uma visão da carruagem de Deus. A partir dessa imagem, Boehme imagina uma máquina cósmica que é mantida unida pela Trindade. Esse gerador assume a forma de uma esfera que consiste em sete rodas girando umas dentro das outras. A esfera inteira é permeada pelo “Pai” e, a partir do cubo no centro, a luz do “Filho” brilha. O Espírito Santo é a força que alimenta a máquina para girar as rodas e, assim, criar tudo na natureza (figura abaixo).