P: Certamente deve haver uma diferença entre esquecer e não saber. Não saber não precisa de causa. O esquecimento pressupõe conhecimento prévio e também a tendência ou capacidade de esquecer. Admito que não posso indagar sobre a razão do não saber, mas o esquecimento deve ter algum fundamento. — M: Não existe o fato de não saber. Existe apenas o esquecimento. O que há de errado com o esquecimento? É tão simples esquecer quanto lembrar.
P: Não é uma calamidade esquecer-se de si mesmo? — M: Tão ruim quanto lembrar-se de si mesmo continuamente. Há um estado além do esquecimento e do não esquecimento — o estado natural. Lembrar, esquecer — todos esses são estados mentais, ligados a pensamentos, ligados a palavras. Tomemos, por exemplo, a ideia de ter nascido. Dizem que eu nasci. Eu não me lembro. Disseram-me que vou morrer, mas não espero por isso. Você me diz que eu esqueci ou que me falta imaginação. Mas eu simplesmente não consigo me lembrar do que nunca aconteceu, nem esperar o que é claramente impossível. Corpos nascem e corpos morrem, mas o que isso tem a ver comigo? Os corpos vêm e vão na consciência e a própria consciência tem suas raízes em mim. Eu sou a vida e os meus são a mente e o corpo.
P: Você diz que na raiz do mundo está o autoesquecimento. Para esquecer, preciso lembrar: O que eu esqueci de lembrar? Não me esqueci de que sou. — M: Esse “eu sou” também pode ser parte da ilusão.