Rumi (Masnavi:Prólogo) – Ouça como o bambu conta uma história

Tradução

Ouça como o bambu conta uma história, queixando-se da separação — dizendo: “Desde que fui separado do bambuzal, meu lamento tem feito gemer homens e mulheres. Quero um seio dilacerado pela separação, para que possa revelar (a tal pessoa) a dor do desejo amoroso.
Todo aquele que é deixado longe de sua fonte deseja voltar ao tempo em que estava unido a ela. Em todas as companhias, eu proferia minhas notas de lamento, me associava com os infelizes e com aqueles que se alegram. Cada um se tornou meu amigo por sua própria opinião; ninguém buscou meus segredos em mim.
Meu segredo não está longe de ser revelado, mas os ouvidos e os olhos não têm a luz (pela qual deve ser apreendido). O corpo não está oculto da alma, nem a alma do corpo, mas ninguém tem permissão para ver a alma.” Esse barulho do bambu é fogo, não é vento: quem não tiver esse fogo, que não seja nada!
É o fogo do Amor que está no bambu, é o fervor do Amor que está no vinho. O bambu é a companheiro de todo aquele que se separou de um amigo: seus cantos perfuram nossos corações. Quem já viu um veneno e um antídoto como o bambu? Quem já viu um simpatizante e um amante saudoso como o bambu? O bambu fala do Caminho cheio de sangue e conta histórias da paixão de Majnún. Somente aos insensatos é confiado esse sentido: a língua não tem cliente, exceto o ouvido. Em nosso sofrimento, os dias (da vida) se tornaram inoportunos: nossos dias viajam de mãos dadas com dores ardentes. Se nossos dias se foram, que se vão! Permaneça, pois ninguém é santo como Você! Quem não é peixe se sacia com Sua água; quem não tem o pão de cada dia tem o dia longo. Ninguém que esteja cru entende o estado do maduro: portanto, minhas palavras devem ser breves. Adeus!

Reynold Nicholson

Listen to the reed how it tells a tale, complaining of separations—
Saying, “Ever since I was parted from the reed-bed, my lament hath caused man and woman to moan.
I want a bosom torn by severance, that I may unfold (to such a one) the pain of lovedesire.
Every one who is left far from his source wishes back the time when he was united with it.
In every company I uttered my wailful notes, I consorted with the unhappy and with them that rejoice.
Every one became my friend from his own opinion; none sought out my secrets from within me.
My secret is not far from my plaint, but ear and eye lack the light (whereby it should be apprehended).
Body is not veiled from soul, nor soul from body, yet none is permitted to see the soul.”
This noise of the reed is fire, it is not wind: whoso hath not this fire, may he be naught!
’Tis the fire of Love that is in the reed, ’tis the fervour of Love that is in the wine.
The reed is the comrade of every one who has been parted from a friend: its strains pierced our hearts1.
Who ever saw a poison and antidote like the reed? Who ever saw a sympathiser and a longing lover like the reed?
The reed tells of the Way full of blood and recounts stories of the passion of Majnún.
Only to the senseless is this sense confided: the tongue hath no customer save the ear.
In our woe the days (of life) have become untimely: our days travel hand in hand with burning griefs.
If our days are gone, let them go!—’tis no matter. Do Thou remain, for none is holy as Thou art!
Whoever is not a fish becomes sated with His water; whoever is without daily bread finds the day long.
None that is raw understands the state of the ripe: therefore my words must be brief. Farewell!

Rumi (1207-1273)