Templários

VIDE Cavaleiros do Templo; guardiões

No mundo da tradição judaico-cristã, uma tal organização devia naturalmente tomar por símbolo o Templo de Salomão; tendo este deixado de existir materialmente desde há muito tempo, só poderia ter então uma significação ideal, como imagem do Centro Supremo, tal como o é todo centro espiritual subordinado. A própria etimologia do nome de Jerusalém indica de modo muito claro que ela é uma imagem visível da misteriosa Salém de Melquisedeque. Se foi esse o caráter dos Templários, eles deviam, para cumprir o papel que lhes estava atribuído e que se referia a uma determinada tradição, a do Ocidente, permanecer ligados exteriormente à forma dessa tradição. Mas, ao mesmo tempo, a consciência interior da verdadeira unidade doutrinária devia torná-los capazes de se comunicarem com os representantes de outras tradições: é o que explica suas relações com certas organizações orientais, e, sobretudo, como é natural, com aquelas que em outras partes desempenhavam um papel similar ao seu.

Por outro lado, pode-se compreender, nessas condições, que a destruição da ordem do Templo foi a causa da ruptura das relações regulares do Ocidente com o “Centro do Mundo”, se bem que remonte ao século XIV o desvio que devia de forma inevitável resultar nessa ruptura, que foi acen-tuando-se gradualmente até a nossa época.

Isso não quer dizer, contudo, que toda conexão tenha-se rompido de uma só vez. Durante muito tempo as relações puderam, em certa medida, ser mantidas, só que de uma forma oculta, por intermédio de organizações como a Fede Santa ou os “Fiéis de Amor”, como a “Massenie du SaintGraal” e, sem dúvida, muitas outras ainda, todas herdeiras do espírito da ordem do Templo, e na maior parte ligada a elã por uma filiação mais ou menos direta. Aqueles que conservaram esse espírito vivo, e que inspiraram essas organizações sem jamais se constituírem em qualquer agrupamento definido, foram denominados Rosa-cruzes, nome essencialmente simbólico. Mas chegou o dia em que os próprios Rosa-cruzes tiveram de deixar o Ocidente, pois as condições se tornaram tais que não puderam mais exercer sua ação e, diz-se, retiraram-se então para a Ásia, sendo reabsorvidos de algum modo pelo Centro Supremo, do qual eram como que uma emanação.

Para o mundo ocidental, não há mais “Terra Santa” para guardar, pois, desde então, perdeu-se o caminho que a ela conduzia. Por quanto tempo perdurará ainda essa situação? É possível esperar que a comunicação possa ser restabelecida mais cedo ou mais tarde? Essa é uma questão que não nos compete responder; além disso, não queremos arriscar qualquer predição. A solução só depende do próprio Ocidente, pois é apenas retornando às condições normais e reencontrando o espírito de sua própria tradição, se é que tal possibilidade ainda lhe resta, que poderá ver abrir-se de novo o caminho que leva ao “Centro do Mundo”. [Guénon]

Graal