É interessante notar, e bastante característico da estrutura de pensamento e percepção de Böhme, que ele introduz a metáfora da profundidade (Tiefe) onde normalmente esperaríamos que aparecesse a noção de altura e sublimidade. Em um de seus textos, o teosofista, cujo trabalho — como vimos — é de considerável interesse do ponto de vista da psicologia profunda, e que poderia ser considerado o iniciador de uma “teologia das profundezas” que, infelizmente, ainda não é levada suficientemente a sério, traça um paralelo entre a profundidade da natureza e a profundidade que existe no homem: “Toda a profundidade entre a terra e as estrelas é como o espírito (Gemüt) de um homem…. E o sol é o rei e o coração da profundidade, ele brilha e age na profundidade e, assim, cria vida na profundidade; o sol está na profundidade como o coração está dentro do corpo humano; e os seis planetas criam os sentidos e o entendimento na profundidade, de modo que todos eles juntos são como um espírito vivo (Geist)”. De fato, aqui o autor se afasta do reino da teosofia no sentido restrito do termo. Para Böhme, a profundidade (Tiefe), como muitos outros termos que ele usa com frequência, não é um conceito definido com precisão, mas sim a expressão de uma experiência espiritual e psíquica, uma expressão que, ao mesmo tempo, contém o limite dessa experiência; pois “a profundidade (de Deus) não pode ser concebida por nenhuma criatura”, e todas as nossas noções filosóficas — não mais do que fórmulas teológicas ou dogmáticas — não fazem nada a respeito disso. Sobre o assunto dessa “profundidade do ser” (Tiefe des Seins), da qual Paul Tillich fala hoje, Böhme questionou em vão os estudiosos de sua época. É “a mais profunda profundidade de Deus” (der tiefe Grund Gottes) que está na escuridão. E, no entanto, Böhme é otimista: “Ele aparecerá em profundidade e com grande simplicidade. Por que não em altura e com grandes artifícios? Para que ninguém possa se vangloriar e dizer ‘eu fiz isso’, e para que o orgulho do demônio seja exposto e destruído.” Quando perguntado como essa profundidade pode ser explorada, Böhme responde, referindo-se a São Paulo: “O espírito explora todas as coisas, inclusive as profundezas da Divindade” (I Cor. 2:10).
Wehr (CHJB) – profundidade (Tiefe) em Boehme
- Deghaye (CHJB) – Deus absconditus
- Deghaye (CHJB) – Feuerbach e a obra de Boehme
- Deghaye (CHJB) – Filho
- Deghaye (CHJB) – O Deus de Böhme não é a priori
- Deghaye (PDND) – alma
- Deghaye (PDND) – Conhecimento de Si – Conhecimento de Deus
- Deghaye (PDND) – deidade
- Deghaye (PDND) – desejo de Deus?
- Deghaye (PDND) – Deus
- Deghaye (PDND) – o Deus que se revela