Em Boehme, portanto, há a Deidade pura, por um lado, e sua emanação, o Deus da teosofia, por outro. A Deidade pura escapa completamente ao nosso conhecimento, enquanto o Deus emanado é o Deus que se revela.
Logicamente, tudo o que deveríamos dizer sobre essa Deidade pura absolutamente incognoscível é que não sabemos nada sobre ela. No entanto, Boehme não pode deixar de incluí-la em sua discussão. Como se pode falar do Deus que se revela sem sugerir o Absoluto do qual emana? Se a teosofia é a história da manifestação divina, devemos imaginar que essa ação teve um começo. Boehme pode muito bem afirmar que esse primeiro começo é eterno, mas isso significa apenas que se repete eternamente e, ainda assim, é um começo. Então, o que há antes desse início?
No nível da Deidade pura, considerada em si mesma, não há nem antes nem depois, de acordo com a definição de eternidade perfeita. Mas o Deus emanado é um Deus que nasce. Portanto, tem um início. Como podemos explicar esse início? Essa pergunta implica uma reflexão sobre a Deidade pura, que, para nós, necessariamente precede o Deus emanado, mesmo que seja eterna em si mesma.
Deus nasce de acordo com um ciclo septiforme que chamamos de ciclo de manifestação divina. Como esse ciclo começa? Devemos imaginar que, em um determinado momento, a Divindade primordial, que Boehme chama de Deidade pura, emerge de si mesma para se engajar nele. É assim que Boehme se expressa. Mas primeiro vamos nos perguntar o que determina a Divindade a se derramar para fora de si mesma, enquanto antes ela repousava dentro de si mesma.