O oceano foi, para os antigos, uma noção primordial, não em virtude de visões naturalistas, e porque se tinha o mar como lugar de origem da vida terrestre, ou a água como a matéria primeira cujos corpos eram formados (não se alcançaram estas noções senão bem mais tarde, por degradação em sistema profano das ideias religiosas anteriores). A concepção que estava no ponto de partida, é que, ”no oceano, se encontra a fonte da imortalidade, a ambrosia que permite escapar às misérias da existência fenomenal e de recuperar o estado sobre-humano. Se não se apreende este ponto, é impossível entender algumas das mais importantes tradições da antiguidade.
Na Índia, vemos, em relatos fundamentais, os deuses e os Asuras se reunir para bater (agitar intensamente)o oceano, de onde sai finalmente a amrita, quer dizer o alimento da imortalidade; esta agitação se efetua tomando como vara uma Montanha, a Mandara. Os deuses lutam em seguida contra os demônios, a fim de que estes não detenham o alimento de vida eterna. É a Vishnu que se confia o depósito. — Estas indicações possuem um sentido muito pleno e muito claro —; elas significam sem qualquer dúvida que no oceano se encontra o segredo da subre-naturalização do homem.
G. Dumézil recolheu outros detalhes do mesmo gênero em seu «Festin d’Immortalité» (1924). Aí se verá por exemplo que nos gregos o alimento dos deuses, a ambrosia, era produzida pelo Oceano, ideia fundamental que se expressava de uma outra maneira em dizendo que a nutriz de Zeus era a oceânide Ambrosia. Aditemos que, segundo a Ilíada, os deuses tiravam todos sua origem do Oceano e de Tétis; além do mais, iam frequentemente visitar o Oceano, e tomar parte nas festas que aí se celebravam; estas viagens correspondiam sem dúvida alguma ao que relata Diodoro das solenidades que desenvolviam, em certa estação do ano, nestes cantões longínquos.