Hulin (DSDT:15) – A doutrina secreta da deusa Tripura

Será que estamos diante de um daqueles escritos preguiçosamente sincretistas que o hinduísmo filosófico, no declínio de seu poder criativo, produziu em abundância a partir do século XV ou XVI d.C.? Não, porque não há aqui nenhuma tentativa de reconciliar teses opostas, de apagar diferenças doutrinárias, de identificar um meio-termo. Pelo contrário, o Tripurāhasya, testemunhando o espírito mais autêntico do tantrismo, demonstra um ceticismo resoluto em relação a qualquer tipo de formulação teórica que pretenda ser definitiva e exclusiva. Opõe-se às teorias com o que a língua sânscrita designa pelo termo sādhana, um termo que traduzimos da melhor forma possível como “meio de progressão”, “instrumento de salvação”, “método de realização espiritual” e assim por diante. Ao mesmo tempo, não tem nada em comum com aqueles manuais escolares, de natureza puramente técnica ou mnemônica, que meramente relembram os estágios de uma progressão espiritual estereotipada e se mostram inutilizáveis, às vezes até ininteligíveis, fora do ensino oral bem definido que pretendem acompanhar. Seria mais preciso defini-lo como um local de meditação, constantemente renovado, sobre a lacuna que se amplia e se aprofunda constantemente entre as teorias metafísicas, sejam elas quais forem, e o curso normal da vida. O que é proposto aqui não é um novo caminho, um novo método, mais um sādhana específico, mas uma reflexão de segundo grau sobre os obstáculos sutis, de natureza intelectual ou existencial, que se interpõem no caminho de qualquer tipo de sādhana. Por que a compreensão intelectual do verdadeiro não se estende à realização intuitiva? Que preconceitos, que armadilhas linguísticas, que hábitos mentais, que desejos inconscientes estão agindo para impedir isso? Como esses obstáculos podem ser detectados e contornados? Essas são as perguntas para as quais o Tripurārahasya procura fornecer respostas, sem qualquer preocupação com ortodoxia ou afiliações sectárias estreitas. [DSDT]

Introdução

Capítulo I – Conversas nas montanhas

Capítulo II – Os viajantes na floresta

Capítulo III – O príncipe e a princesa

Capítulo IV – Diálogo sobre o Bem Soberano

Capítulo V – Uma história estranha

Capítulo VI – Razão e revelação

Capítulo VII – A soberania divina

Capítulo VIII – A chave do enigma

Capítulo IX – Alcançando o eu

Capítulo X – A cidade do conhecimento

Capítulo XI – O espelho espiritual

Capítulo XII – O mundo dentro da rocha

Capítulo XIII – A vida é um sonho

Capítulo XIV – Relatividade universal

Capítulo XV – A mulher asceta

Capítulo XVI – Sono e Samādhi

Capítulo XVII – O rei Janaka

Capítulo XVIII – Servidão e libertação

Capítulo XIX – A hierarquia dos sábios

Capítulo XX – A consulta à Deusa

Capítulo XXI – O demônio bramânico

Capítulo XXII – Epílogo

Michel Hulin (1936), Xivaísmo de Caxemira