Segundo Jean Robin, costuma-se fazer da astrologia uma ideia totalmente falsa, imaginando-se que esta ciência estuda as “influências” exercidas sobre o mundo terrestre pelos astros “físicos”. Se trata na realidade de algo muito distinto, muito mais complexo e profundo, do qual só se pode ter uma ideia recorrendo à doutrinas orientais, que conservaram noções que se tornaram totalmente estranhas ao Ocidente moderno.
A partir de uma compreensão da “manifestação” e da existência, e das noções de grau, estado e modo ou modalidade de um ente, é possível entender que essas “influências” estudadas pela astrologia ordinária só têm um papel muito secundário com respeito ao eixo vertical que vincula o indivíduo ao Si mesmo, em seu Princípio, posto que – sempre segundo René Guénon – “é evidente que o ponto de intersecção não é um qualquer mas o que está determinado pela vertical de que se trata, enquanto esta se distingue de qualquer outra, quer dizer, em suma pelo fato de esse ente ser o que é, e não o que é um ente qualquer manifestando-se igualmente no mesmo estado”. Do que resulta logicamente que o meio no qual um ente se manifesta está determinado por uma incontestável “afinidade” com com as possibilidades que leva esse ente em seu seio, no estado principial, possibilidades que pedem manifestar-se segundo modalidades em relativa harmonia com sua natureza profunda. Vemos que a parte do “azar” se reduz a nada, e se pode dizer em suma que o ente “elege” verdadeiramente o meio no qual vai ser.
Assim, ao que aparece – se nos atemos unicamente ao plano horizontal que evocamos até um momento – como uma influência do meio se torna, se nos remetemos ao eixo vertical e se adotamos um ponto de vista metafísico, a expressão de algum modo simbólica das possibilidades que o ente é desde de toda eternidade destinado a manifestar, em tal estado de existência determinado. Se trata aqui de sua “assinatura”, no sentido hermético da palavra.
Devemos dizer que o número das influências do meio – tanto corporais como psíquicas – é indefinido, e não poderiam portanto ser estudadas separadamente, de um modo analítico. Para o estado humano que aqui nos interessa, as influências são sintetizadas pelos astros “fixos” e “móveis” que constituem o meio cósmico. Quer dizer que “as influências astrais” não são tanto, como se poderia crer, “as influências dos astros” propriamente ditas (as únicas que consideram os astrólogos modernos), no sentido de que, por exemplo, a Lua influencia as marés, mas sim as influências de que os astros são “símbolo”. Os astros considerados pela Astrologia são de fato “as luminárias criadas para ser signos”, de que fala o Gênese (I, 14).