VIDE: MAÇÃS DE OURO; A ÁRVORE DO BEM E DO MAL; APOLO
Pierre Gordon: A IMAGEM DO MUNDO NA ANTIGUIDADE
A árvore que mencionam com insistência, como árvore primordial, todas as tradições da Índia, é a macieira. A Ilha da Macieira se encontra como elemento de base, nas cosmogonias de todas as religiões. Ela é tão essencial quanto o Meru. Como dar conta desta singularidade?
Não se trata de invenção da Índia, posto que, nos escandinavos, a deusa da vida imortal, Idhuna, ou Idhu, se identifica com uma macieira; é, além do mais, graças a ambrosia extraída da maçã que os deuses nórdicos restauram sua imortalidade. Na Grécia, Apolo, na ocasião dos Jogos Píticos tem uma maçã à mão, como prêmio dos jogos: não se notou suficientemente este detalhe, que nos dá a chave do deus helênico; seu nome, com efeito, — Apellon no vocativo — nada mais é que a denominação setentrional da maçã (inglês apple, alemão apfel, celta abal, etc.). O belo deus germânico Balder tem provavelmente a mesma origem (seu nome vem de a-pal-ter = appeltree em inglê = macieira. Apollon equivale assim a Avallon, a famosa insula pomorum, que é um dos nomes da Ilha Santa («insula pomorum, quae Fortunata vocatur», diz a Vida de Merlin). Esta ilha dos Bem-aventurados, onde a tradição celta medieval fará mais tarde «dormir» o Rei Artur, se hipostasiou na divindade helênica, a mais representativa das iniciações, no mais prestigioso Liberador que conheceu o paganismo. Esta encarnação das macieiras transcendentes além do mais veio dos países hiperbóricos para a Grécia sob o aspecto de um lobisomem: que assim o situa. — Na Ásia, nos parece provável que o grande Liberador do budismo, Avalokiteshvara, que é o bodhisattva do ocidente, esteve igualmente em seu princípio, em conexão com a Ilha Santa: seu nome, que jamais foi claramente explicado, compreende, com efeito o vocábulo celta que designa maçã (Abal ou Aval); temos portanto provavelmente a ver, no início com o Senhor (Ishvara) do lugar das maçãs, ou da essência das maçãs. Se avalokita veio a significar a iluminação perfeita (segundo Heinrich Zimmer), é porque a árvore ou o fruto da imortalidade comunica a plenitude da luz; eis aí, em outros termos, um sentido derivado. Se nossa conjectura é exata, a importância de Avallon sobressai com novo brilho.
As tradições célticas afirmam que a macieira foi a árvore do paraíso terrestre. Elas não mentem certamente, neste sentido que lugar identificado com o Éden, — e mais tarde os recintos sagrados constituídos a sua imagem — recorreram a esta árvore como vegetal da vida imortal e lhe deram um emprego no ritual de criação. O fato que os hindus, unanimemente, lhe outorgam um lugar insigne em sua representação do cosmo bastaria para provar sua antiguidade como Árvore de Vida.