Panikkar (RPDB) – Nobres Verdades Budismo

E então, tendo superado a tentação do santo, que é fazer o bem, a tentação do político, que é utilizar os meios igualmente para fazer o bem, a tentação do monge, que é renunciar a todas as coisas para sentir-se bem e fundamentado; então, naquele parque de cervos, chamado ísipatana, juntou-se aos cinco monges que reencontrara e lhes disse:

“É preciso evitar esses dois extremos. E quais são esses extremos? Um deles é buscar e desejar o prazer. Tem origem no afetivo, é vulgar, é ignóbil, não tem em si proveito algum, e leva a renascer. O outro extremo é a busca do ascetismo, do desagradável, do sofrimento, da renúncia, e é do mesmo modo doloroso e inútil.”

Esses dois extremos devem ser evitados. E continuou: “O Tathâgata (nome que não se sabe se ele mesmo ou a tradição dava, mas o texto pâli assim o transmite), em compensação, evita esses dois extremos e caminha por uma vereda do meio, que é um caminho luminoso, lindo e inteligível; é um caminho de serenidade, que leva à paz, ao conhecimento, à iluminação, ao nirvana.”

  • A nobre verdade da dor
    “Essa é, monges, a nobre verdade da origem da dor, a sede, o desejo que leva a buscar o prazer, que desencadeia a paixão, e que busca a satisfação aqui e ali, a sede de prazer, o desejo de existir e o de não existir.”
  • A nobre verdade da cessação da dor
    “Essa é a nobre verdade da cessação da dor, a supressão completa da sede, sua destruição, esquecendo-a, abandonando-a, libertando-se e mantendo-se afastado dela.”
  • A nobre verdade do caminho rumo à extinção da dor
    “Essa é, ó monges, a via que conduz à extinção da dor, esse é o caminho óctuplo (os oito caminhos, astânga-mârga), a saber, a reta visão…”

    Traduzo por reta o que se poderia entender por sereno, equilibrado, completo, perfeito. Sammâ, de onde vem também a palavra harmonia, a visão harmônica. Digamos, então:

    “A visão correta, a intenção correta, a palavra correta, a ação ou conduta corretas, os meios ou gêneros de vida corretos, o esforço apropriado, a atenção tal como dever ser, e a devoção ou concentração necessárias.”

    Cada uma dessas palavras poderia ser traduzida de diferentes formas e deveria ser explicada detalhadamente, mas continuemos com o texto:

    “A menos que esse conhecimento triplo e essa intuição com suas doces divisões seja purificado pelas quatro nobres verdades; a menos que isso ocorra, ó monges, neste mundo com seus Deuses, com Mâra, com Brahma, com os ascetas, os brâmanes, os espíritos, os seres humanos, os animais, e com todas as coisas, não terei obtido a iluminação completa e suprema.”

    Essas são as quatro verdades nobres que formam a pedra angular e o ponto de união de toda essa tradição que durante vinte e cinco séculos contribuiu como poucas para dar ao mundo muitas filosofias, fecundar várias civilizações e criar todo um estilo de vida.

Buda, Raimon Panikkar