Valentin Tomberg
Os Arcanos Maiores são símbolos autênticos, isto é, “operações mágicas, mentais, psíquicas e morais” que despertam noções, ideias, aspirações e sentimentos novos, o que significa que eles exigem uma atividade mais profunda do que a do estudo e a da explicação intelectual. Por isso, para aproximar-se deles, é necessário manter-se num estado de recolhimento profundo e sempre renovado. Quando alguém medita sobre os Arcanos do Tarô, as camadas profundas e íntimas de sua alma se tornam ativas e dão seus frutos. É pois necessária a “noite” da qual fala são João da Cruz, na qual a alma “se mantém em segredo” e na qual deve atirar-se toda vez que medita sobre os Arcanos do Tarô. É trabalho que deve ser realizado na solidão e que convém aos solitários.
Os Arcanos Maiores do Tarô não são alegorias nem segredos; as alegorias são, com efeito, a representação figurativa de uma noção abstrata; quanto aos segredos, são fatos, procedimentos, práticas e doutrinas quaisquer que alguém guarda para si, embora possam ser compreendidos e praticados por outros, aos quais seu dono não quer revelá-los. Os Arcanos Maiores do Tarô são símbolos autênticos. Eles ocultam e, ao mesmo tempo, revelam seu sentido na proporção da profundeza do recolhimento da pessoa que os medita. O que eles revelam não são segredos, isto é, coisas ocultadas pela vontade humana, mas arcanos. Arcano é aquilo que alguém deve “saber” para ser fecundo em determinado domínio da vida espiritual, aquilo que deve estar ativamente presente em nossa consciência — ou mesmo em nosso subconsciente — para nos tornar capazes de fazer descobertas, de gerar ideias novas, de conceber temas artísticos novos, numa palavra, para nos tornar fecundos em nossos esforços criativos, e isso em qualquer domínio da vida espiritual. O Arcano é um “fermento” ou uma “enzima” cuja presença estimula a vida espiritual e anímica do homem. E os símbolos são os portadores desses “fermentos” ou dessas “enzimas” e os comunicam — se o receptor for capaz de recebê-los, isto é, se se sentir “pobre de espírito” e não sofrer da doença espiritual mais grave: a suficiência.
Se o arcano é superior ao segredo, o mistério é superior ao arcano. O mistério é mais do que um “fermento” estimulante. Ele é um acontecimento espiritual comparável ao nascimento ou à morte física, é a mudança total da motivação espiritual e psíquica ou do plano da consciência.
Jean Borella
ESOTERISMO GUENONIANO E MISTÉRIO CRISTÃO
On remarquera sans peine que la question soulevée par l’existence de l’arcane chrétien diffère de celle que soulevait l’existence d’une tradition secrète de gnose remontant au Christ. Il ne s’agit plus d’une connaissance qui, par sa nature, ne saurait être reçue par tous, bien que nul n’en soit exclu en vertu d’une règle formelle ; il s’agit maintenant d’une interdiction explicite, concernant une certaine catégorie de croyants, les catéchumènes, et relatives aux cérémonies du culte chrétien ainsi qu’à la doctrine sacramentaire. La raison du “secret” ne réside plus dans la présence, ou l’absence, d’une qualité naturelle de contemplation propre à l’intellectus fidei, mais dans la situation sacramentelle du fidèle. Le “secret” de la tradition de gnose, c’est au fond l’indicible, lequel ne saurait faire l’objet d’une institution formelle. Le “secret” de l’arcane catéchuménal concerne l’accès aux formes liturgiques du culte et aux paroles qui y sont formellement attachées : il peut faire l’objet d’une règle disciplinaire. Rien donc ne ressemble plus à l”ésotérisme formel de type guénonien, que l’arcane catéchuménal, avec cette différence toutefois que c’est alors l’Ecclesia des baptisés en son entier qui constitue l’organisation initiatique, et que l’éxotérisme sera réduit à la catégorie des catéchumènes — ce qui ne répond pas non plus à la conception guénonienne. Il faudrait, en effet, pour se conformer à cette conception, que les catéchumènes appartinssent à un exotérisme constitué, avec ses pratiques et ses rites ; or, il est impossible d’imaginer de quel éxotérisme il pourrait bien s’agir. Judaïsme ou religions païennes ne sauraient remplir cette fonction : le premier, parce que l’immense majorité des catéchumènes est d’origine païenne et ignore tout de la religion juive, les secondes, parce que le catéchumènat exige impérativement leur rejet. Avec l’arcane, nous avons bien un ésotérisme, mais nous n’avons plus d’exotérisme. Et, redisons-le, cet ésotérisme baptismal est le plus manifeste aux IVe et Ve siècles, c’est-à-dire à l’époque même où Guénon situe sa disparition définitive.