Também no Tibete e entre os mongóis acredita-se na consubstancialidade divindade–espírito (alma)-luz-semen virile. De acordo com uma lenda, o antepassado de Genghis Khan nasceu quando um ser divino se manifestou sob a forma de um raio luminoso que desceu através da abertura de fumaça da tenda e penetrou o corpo da mãe. Com relação ao nascimento de Shenrab, fundador e patrono da religião Bon, existem duas lendas paralelas: uma delas, bastante parecida com a lenda do nascimento de Sakyamuni, conta como um raio de luz branca, semelhante a uma flecha, penetrou pela parte superior da cabeça do pai, enquanto um raio vermelho, como um fuso de fiar, aprofundou-se na cabeça da mãe. Uma outra versão mais antiga conta que o próprio Shenrab desceu de um palácio celestial, sob a forma de cinco cores (ou seja, como um arco-íris), metamorfoseou-se em pássaro e pousou sobre a cabeça de sua futura mãe; nesse momento, dois raios, um branco e outro vermelho, saíram de seus genitais e penetraram, pelo crânio, no corpo da mulher. De acordo com os tibetanos, na época da procriação, a alma da criança entra na cabeça da mãe através da sutura frontalis (brahmarandhra) e através da mesma abertura a alma deixa o corpo, por ocasião da morte. A operação realizada pelo lama a fim de apressar a partida da alma através da brahmarandhra é expressa através da imagem “desferir uma flecha pela abertura da tenda”, sendo essa flecha luminosa e imaginada como uma estrela cadente.
Os mitos tibetanos resumidos em M & A (p. 47 ss.; na tradução inglesa, p. .41 ss.) afirmam que o homem e o universo originaram-se de uma luz branca ou dc um ser primordial. De acordo com uma tradição paralela, no começo os homens eram animados por sua própria luz interior e eram assexuados. O sol e a lua não existiam. Contudo, quando o instinto sexual despertou, os órgãos genitais apareceram; e, enquanto a luz extinguia-se nos homens, o sol e a lua surgiam no firmamento. [Eliade]