A intelectualidade tem necessidade da sexualidade ?
Todavia, seria perfeitamente falso concluir, do que acaba de ser dito, que a intelectualidade tenha necessidade da sexualidade como esta tem necessidade da intelectualidade ou da espiritualidade; isto que o espírito humano tem necessidade, não é o elemento sexual, é o elemento de infinitude do qual a sexualidade é a manifestação sobre o plano vital e psíquico. Ao passo que a intelectualidade ou a espiritualidade comporta por definição um elemento sobrenatural — uma intervenção permanente ou incidente do Espírito Santo —, a sexualidade é coisa natural: mas como ela reflete uma realidade divina, ela se torna um suporte quase sacramental desta experiência de infinitude que é a extinção contemplativa1; poderíamos dizer também que ela se torna porque ela é humana e que deste fato é destinada a uma colocação em valor espiritual. Tudo isto evoca por analogia a alquimia própria à arte sagrada: esta, dissemos mais de uma vez, não transmite somente verdades abstratas veiculadas por seu simbolismo, transmite igualmente, por sua beleza precisamente, os perfumes ao mesmo tempo vivificantes e calmantes do divino Amor2.
Como o faz notar principalmente Ibn Arabi; mas mesmo o culto da Dama nos cavaleiros e trovadores, ou nos fedeli d’amore, não teria sentido fora desta analogia ao mesmo tempo doutrinal e alquímica, ou «tântrica» se se quer. ↩
O Profeta do Islã ensina, não somente que «Deus é belo e ama a beleza», mas também que «a beleza do caráter é a metade da religião»; quer dizer que o sentido da beleza nada é se não coincide com o sentido do sagrado e a nobreza moral. Notemos que segundo um outro hadith, «o casamento é a metade da religião», o que, confrontado com o hadith precedente, indica o papel do casamento como meio de educação do caráter. ↩