Baader (FC) – Fermenta Cognitionis

Resumo da apresentação de Eugene Susini [FC]

Obra dividida em cadernos e subdividida em parágrafos, mas que não retrata nenhuma ordem sistemática do pensamento na disposição do texto. Os Fermenta são uma soma de significativas expressões que podem servir de “fermento” ao justo pensar. Não se trata de uma exposição sistemática de uma doutrina, mas de notações sugestivas, uma espécie de “fermento”, excitações espirituais, regras de pensamento como de vida, germes — literalmente — suscetíveis de fecundar o espírito, incitando-o à reflexão.

Os temas mais caros a Baader estão todos presentes, de modo não ordenado, dentro de uma visão cristã católica, mas não papista. Ele procura reconciliar tradição e especulação, religião e filosofia, ciência e crença. Referenciando as principais fontes de seu pensamento, encontram-se a escola de Mestre Eckhart, que Baader conheceu através de Johannes Tauler, e principalmente Jacob Boehme que ele coloca acima de todos, e que ele descobriu através de Louis-Claude de Saint-Martin.

O problema da criação domina entre os temas tratados. O processo que reveste e sua significação na economia divina universal, se destacam nesta abordagem, mas longe do panteísmo que confunde criação e criatura: Baader nota que Deus é tudo e está em tudo na criação e na criatura, mas é distinto de uma e de outra, e nenhuma delas, em particular a criatura, não tem parte alguma na essência divina.

A criação é um mal e um bem. Mal porque a forma criatural é o resultado da queda, mas bem posto que uma parada nesta queda, nesta descida ao nada, oferecendo a possibilidade de uma reconquista, de um resgate. Daí a importância do tempo que permite por fragmentos e etapas sucessivas a recuperação do que estava perdido.

Se a saída de Deus, a passagem do incriado ao criado por intermediário da Sophia é objeto de várias considerações, muitas observações também são feitas sobre o problema da prevaricação e aquele da reintegração que a esta se associa. A passagem de um estado a outro por caminhos variados, complicados e sutis, requer um esforço de imaginação e de atenção.

Baader dirá com Böhme que toda forma de criação, toda criatura, seja ela qual for, tem sua origem no fogo, o fogo latente que é a base de tudo, a raiz enterrada de tudo que aspira à vida e que pode explodir ou florescer em luz. A criatura “inteligente”, ou seja, o homem, nasce livre ou, mais precisamente, indiferenciado, sem personalidade ou sexo, ignorante do bem e do mal. Como todas as coisas criadas que se originam do fogo elementar, devem passar pelo teste do fogo, o teste da tentação, se quiserem florescer na luz, em outras palavras, se quiserem seguir o caminho que as leva a Deus ou o caminho oposto que as afasta de Deus. Para a criatura, essa é a hora da escolha, e ela é tentada apenas por seu próprio desejo ou pelo tentador que se identifica com esse desejo.

 

Franz von Baader