Ouçamos Musô (1275-1351), um mestre que se converteu ao Zen aos 20 anos de idade (em 1294) depois de testemunhar a morte horrível de um estudioso budista que havia passado a vida dando sermões sobre esoterismo e Tendai sem, no entanto, obviamente ter encontrado a paz.
— Algumas pessoas nunca se esquecem da Meditação na Terra, mesmo quando cumprimentam alguém, mesmo quando se misturam com a multidão e conversam com alguém, mesmo em todos os atos e ações, seja comendo, vestindo roupas, lendo sutras, murmurando encantamentos, indo ao banheiro ou estando nos lavatórios. Pode-se dizer que essas pessoas são “aquelas que praticam a Meditação em meio a mil coisas”. Embora essas pessoas sejam superiores àquelas que fazem dos milhares de assuntos mundanos um princípio fundamental e da meditação sentada em horas fixas em meio a eles uma regra diária, separando, por assim dizer, os milhares de assuntos da meditação, parece-me que elas tendem a ser absorvidas por eles e se esquecem da meditação. Isso ocorre porque eles veem todos os fenômenos fora da mente. Um ancião disse: “Montanhas, rios, terra e todos os fenômenos são ‘eu’”. Se alguém compreender o significado dessas palavras, não encontrará nelas milhares de assuntos fora da Meditação. A pessoa veste roupas e faz as refeições no meio da meditação; ela vai, para, senta e deita no meio da meditação; ela vê, ouve, percebe, sabe no meio da meditação; ela fica feliz, zangada, triste, divertida, no meio da meditação. Se formos assim, podemos dizer que somos “um homem fazendo mil coisas em meio à meditação”. É então meditação sem meditação e vigilância sem vigilância”.
Em nossa opinião, esse é um dos textos mais adequados para expressar a essência da meditação zen, uma meditação que ocorre na consciência do incondicionado-condicionado (a Ideia de Mundo de Heidegger) e, portanto, pode nos permitir praticar a “meditação em meio a milhares de coisas” ou “fazer milhares de coisas em meio à meditação”. Isso é o que Muso chama de “estar vigilante”.