P: No entanto, você deve acreditar que já viveu antes. — M: As escrituras dizem que sim, mas não sei nada sobre isso. Eu me conheço como sou; como apareci ou aparecerei não está em minha experiência. Não é que eu não me lembre. De fato, não há nada para lembrar. A reencarnação implica em um si reencarnante. Isso não existe. O feixe de memórias e esperanças, chamado de “si”, imagina-se existindo eternamente e cria o tempo para acomodar sua falsa eternidade: para ser, não preciso de passado ou futuro. Toda experiência nasce da imaginação; eu não imagino, portanto, nenhum nascimento ou morte acontece comigo. Somente aqueles que se consideram nascidos podem se considerar renascidos. Você está me acusando de ter nascido — eu me declaro inocente! Tudo existe na com-ciência e a com-ciência não morre nem renasce. Ela é a própria realidade imutável. Todo o universo da experiência nasce com o corpo e morre com o corpo; tem seu início e fim na com-ciência, mas a com-ciência não conhece início nem fim. Se pensar nisso com cuidado e refletir sobre o assunto por muito tempo, você verá a luz da com-ciência em toda a sua clareza e o mundo desaparecerá de sua visão. É como olhar para um bastão de incenso em chamas, primeiro você vê o bastão e a fumaça; quando percebe a ponta ardente, percebe que ela tem o poder de consumir montanhas de bastões e encher o universo de fumaça. O si se atualiza atemporalmente, sem esgotar suas infinitas possibilidades. Na comparação com o bastão de incenso, o bastão é o corpo e a fumaça é a mente. Enquanto a mente estiver ocupada com suas contorções, não perceberá sua própria fonte. O guru vem e volta sua atenção para a centelha interior. Por sua própria natureza, a mente é voltada para o exterior; sempre tende a procurar a fonte das coisas entre as próprias coisas; ser instruído a procurar a fonte interior é, de certa forma, o início de uma nova vida. Com-ciência toma o lugar da consciência; na consciência há o “eu”, que é consciente enquanto a com-ciência é indivisível; a com-ciência está ciente de si mesma. O “eu sou” é um pensamento, enquanto a com-ciência não é um pensamento, não há “eu estou ciente” na com-ciência. A consciência é um atributo, enquanto a com-ciência não é; pode-se estar ciente de estar consciente, mas não consciente da com-ciência. Deus é a totalidade da consciência, mas a com-ciência está além de tudo — ser quanto não-ser. EU SOU ISSO: 56
Nisargadatta (NMIam) – com-ciência [awareness] e consciência [consciousness]
Nisargadatta Maharaj (1897-1981)
- Nisargadatta (NMIam) – o fazedor e o feito
- Nisargadatta (NMIam) – O que dá ao presente esse “selo de realidade”?
- Nisargadatta (NMIam) – O senso de identidade permeia o universal
- Nisargadatta (NMIam) – Obsessão com o corpo
- Nisargadatta (NMIam) – obsessão de ser um “eu”
- Nisargadatta (NMIam) – oceano de dor
- Nisargadatta (NMIam) – pessoal, suprapessoal, impessoal
- Nisargadatta (NMIam) – Qual é a utilidade de uma mente quieta?
- Nisargadatta (NMIam) – Quando não há um “eu”…
- Nisargadatta (NMIam) – quietude