O despertar da kundalini é, de certa forma, o despertar da energia cósmica que está latente em todo ser humano, sendo essa energia a fonte de todos os poderes, de toda a força e de todas as formas de vida de que ele é capaz.
A ioga associada à kundalini não é uma prática secundária; ela preside o despertar, o domínio e a aplicação dessa energia fundamental. Portanto, faz parte de um sistema completo de energia, do qual a kundalini, sob vários nomes, abrange todas as manifestações de forma concreta e viva.
Como energia consciente, a kundalini está na origem das duas correntes que governam a vida: prāna, energia vital, e vīrya, eficiência viril no sentido mais amplo, a primeira enfatizando o aspecto desabrochado da energia e a segunda, sua intensidade adamantina. Essas são as duas manifestações da vitalidade profunda (ojas) da qual emanam antes de se fundirem em uma única energia com um sabor único (sāmarasya), a beatitude inerente à fusão da vida instintiva com a vida interior e mística. Assim, vīrya, poder em ação, abrange todas as formas de eficiência e anima todo o fervor, seja ele amoroso, artístico ou místico.
A ioga da kundalini, portanto, completa o caminho da energia, o caminho superior e completo defendido pelo sistema Kula, mas, como diz respeito ao corpo, também faz parte do caminho inferior, ou individual1.
Como as práticas tântricas visam despertar e dominar a kundalini, o verdadeiro significado do tantrismo não pode ser compreendido sem um conhecimento real da kundalini.
Em seu Tantraloka, Abhinavagupta distingue três vias principais. Dedica o Capítulo III à via de Shiva, a via divina, que trata essencialmente da eficiência do mantra supremo, o Eu, AHAM, resultante da fusão dos fonemas A (Shiva), H, energia e M, indivíduo. A kundalini ainda aparece como a energia universal e plenária (purnakundalini), sem discernimento e intuição mística, a kundalini ascendente (urdhvakundalini), bem como as causas naturais (amor, fervor) capazes de estimular essa ascensão. (Consulte a Parte Três, capítulos 2-3). O capítulo V define a via do indivíduo que implementa a atividade — descreve em grande detalhe os vários aspectos da experiência de um iogue com a energia da respiração (pranakundalini), aqui I. cap. 2 a 6 ↩