Benoist
Esperamos ter mostrado que o exercício da inteligência, a começar pelo uso da linguagem, não pode ser isolado de sua origem operacional. Assim agindo, o homem humanizou um espaço cuja tomada de posse mental seguiu passo a passo a tomada de posse efetiva. A mão e o espírito obedeceram aos mesmos métodos de realização por aproximações sucessivas, realizando os gestos de um trabalho tornado habitual. Nosso conhecimento do universo foi manual e pedestre, antes de ser visual. Tomando consciência da direção de seu olhar, da amplitude e da eficácia de seus movimentos, o homem criou um vocabulário de imagens ativas que se aplicou naturalmente à sua primeira geometria. “Quase todas as nossas ações, diz Simone Weil, simples ou eruditas, são aplicações de noções geométricas. O universo em que vivemos é um tecido de relações geométricas, e à necessidade geométrica é que nos submetemos como criaturas encerradas no espaço e no tempo”.
As matemáticas responderam inicialmente a exigências utilitárias e a necessidades sociais. Serviram à contagem das colheitas e dos rebanhos, à agrimensura das terras, à arquitetura dos edifícios e até ao cálculo dos movimentos celestes, do qual dependia e depende sempre nosso “Conhecimento do Tempo”. As noções primordiais foram lentamente elaboradas, a partir de dados sensíveis, por uma prática de operações respondendo às necessidades cotidianas.
Essa geometria intuitiva era instintivamente fundada sobre as duas noções fundamentais de ordem e às continuidade, posteriormente esclarecidas por Leibniz, e que constituem as condições do novo método que ele chamaria analysis situs, ou análise da situação — isto é: procedimentos tão simples quanto as extensões, regressões, exclusões, convergências, conexões, todas essas figuras que formam igualmente a base, como vimos, do mecanismo ordinário de nosso pensamento e que expressamos com nossos gestos e nossos verbos. [Benoist]
Guénon
Cabe assinalar que, num antigo catecismo do grau de Companheiro, à questão: What does that G denotei, responde-se expressamente: Geometry or the Fifth Science (ou seja, a ciência que ocupa o quinto lugar na enumeração tradicional das “sete artes liberais”, cuja transposição esotérica nas iniciações da Idade Média já assinalamos em outras ocasiões). Essa interpretação em nada contradiz a afirmação de que a letra G stands for God, pois Deus nesse grau é especialmente designado como o “Grande Geômetra do Universo”. Por outro lado, o que lhe dá total importância é que, nos antigos manuscritos conhecidos da maçonaria operativa, a “Geometria” é constantemente identificada à própria maçonaria. Existe aí alguma coisa que não pode ser desprezada.
Por outro lado, parece, como veremos a seguir, que a letra G, enquanto inicial de Geometry, tomou o lugar de seu equivalente grego y [gama], o que justifica plenamente a origem da própria palavra “Geometria” (e aqui, ao menos, não é mais de uma língua moderna que estamos tratando). Além disso, a letra γ apresenta em si um certo interesse, do ponto de vista do simbolismo maçônico, em razão da sua forma de esquadro, o que evidentemente não é o caso da letra latina G. [Guénon]