Islã

A mais nova das grandes religiões mundiais, dependente dos ensinamentos de Maomé, tal como foram formulados no Alcorão. O significado da palavra é “rendição”, e um muçulmano é aquele que se rendeu à vontade de Deus, conforme foi revelada por seu verdadeiro profeta.

Em essência, os ensinamentos islâmicos são o produto da experiência religiosa do Oriente Próximo e os historiadores da religião tendem a tratar o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo não como fés separadas, mas como três ramos da mesma . O Islã estava por certo tão profundamente enraizado quanto o Judaísmo ou o Cristianismo em seu senso de história e preocupação com a cronologia — a concretização dos desígnios de Deus no tempo. O Islã é rigidamente monoteísta, reconhecendo a validade do Antigo Testamento, dos profetas e de Jesus Cristo; o próprio Abraão é considerado no Alcorão como o fundador do santuário de Meca, com sua sagrada Pedra Negra (a Kaaba), e é respeitado como o destruidor de ídolos.

O principal ponto de divergência reside em que o Islã crê ser Maomé o mais recente e mais perfeito dos profetas, a quem Deus ordenou que revelasse a Sua verdade e Seus desígnios para o mundo nos escritos do Alcorão. À medida que a amadureceu, os mestres islâmicos estavam preparados para reconhecer a força do ministério de Cristo (e para aceitar até o nascimento pela Virgem), mas não a noção do Cristo como Deus encarnado. Rejeitaram o conceito da Trindade como uma aberração que desviava os homens de um estrito caminho monoteísta.

A nova propagou-se com extraordinária rapidez. Maomé pregou seu credo monoteísta em Meca, na década de 610, com um êxito apenas moderado. Em 622 — data a partir da qual os muçulmanos calculam sua nova era — dá-se a sua fuga (a hijra ou hégira) com seus seguidores para Medina, um povoado com substancial presença judia. Foi aí que o movimento adquiriu impulso. O estreito envolvimento do próprio Maomé na política, organização social e guerra assegurou um forte elemento sócio-político na nova , desde os seus primeiros dias. Uma forte tendência militar impregnou o Islã, orientada contra as tribos politeístas e adoradoras de ídolos; e o conceito de jihad, na acepção de uma guerra tanto legal quanto santa, pode ter tido sua origem na década de 620.

Embora os seguidores de Maomé não fossem uniformemente bem-sucedidos nessas atividades militares, um momento culminante e decisivo ocorreu com o seu triunfal regresso a Meca (629-30). No ano de sua morte (632), toda a península arábica se encontrava num estado inédito de unidade política. Mortíferas guerras tribais tinham sido a maldição da península mas, ao unir os novos crentes numa universal, Maomé transcendeu os vínculos tribais locais; o uso do árabe como a língua sagrada dominante ajudou ainda mais a manter os muçulmanos unidos, apesar de suas tradições imensamente díspares.

Através dessa unidade recém-forjada, uma imensa reserva de energia militar latente foi liberada. Os sucessores de Maomé, os califas, aproveitaram-se disso ao máximo, soltando a nova força contra os impérios decadentes de Bizâncio e da Pérsia. Numa curta geração (632-56), os muçulmanos obtiveram o controle do Oriente Próximo, Jerusalém, Damasco e Síria, Mesopotâmia e o Império Persa, Alexandria e o Egito. Ampliaram sua autoridade ainda mais com o califado omíada baseado em Damasco (660-750). Em 720, o muezzin estava convocando os fiéis para a oração desde os contrafortes das montanhas do norte da Espanha até o vale do Indo. Toda a metade meridional do “Crescente fértil” estava em mãos muçulmanas. Com os abássidas (750-1258), o centro do poder deslocou-se de Damasco para Bagdá, mais a leste, e a universalidade do Islã foi confirmada por uma preponderância extra-árabe.

As atitudes muçulmanas em relação aos não-crentes variaram, mas a tendência mais frequente era para a tolerância, desde que os impostos fossem pagos e as escrituras respeitadas. Podiam ser ferozes, contudo, contra o culto de ídolos e a rejeição da unidade da Divindade. A unidade política era frequentemente ilusória; uma dinastia Omíada persistiu na Espanha até o século XI, enquanto que outras dinastias brotavam por todo o disperso complexo muçulmano: fatímidas no Egito (909-1171); turcos seljúcidas na Síria e Anatólia (1077-1307); almorávidas (1036-1147) e almôadas (1130-1269) no Magrebe e na Espanha. A intrusão dos mongóis no século XIII levou à queda do califado abássida, quando o Irã, o Iraque e a Síria ficaram em poder dos invasores. A perturbação política provocada pela criação do reino cruzado (1100-1292) foi ainda agravada por poderosos movimentos turcos; o período final da Idade Média viu o surgimento dos turcos otomanos como potência muçulmana dominante. Entretanto, durante todo esse período, o Islã desenvolveu-se e floresceu em considerável integridade.

Para o mundo europeu ocidental, o Islã era, de tempos em tempos, a “grande ameaça”, “a religião vinda de fora” — claramente não-pagã e mais do que uma simples heresia. Conflitos na Espanha, Sicília e nas Cruzadas avivaram essa percepção e, com frequência, os temores. Mas também houve tempos de contato mais pacífico, sobretudo no século XII e entre os letrados judeus na Espanha. A Europa ocidental deve muito em conhecimentos matemáticos, médicos e filosóficos às fontes árabes, onde a herança da cultura grega tinha sido muito melhor preservada por humanistas muçulmanos.

O Islã foi adotado por povos de diversas tradições: latinos, gregos, persas e, em sua mais vasta extensão, asiáticos centrais, indianos e chineses. Portanto, surgiram naturalmente variações nas formas de culto, embora o núcleo central se mantivesse firme e inabalável: monoteísmo, dependência do Alcorão e obediência aos ensinamentos legados por Maomé (hadith). Espera-se que todos os muçulmanos orem cinco vezes por dia na direção de Meca (inicialmente Jerusalém); jejuem durante o sagrado mês lunar de Ramadã; deem esmolas; observem o dia de culto e de repouso nas sextas-feiras; e realizem pelo menos uma vez na vida uma peregrinação a Meca (a hajj) e outros lugares santos associados à vida do profeta.

A principal divisão no Islã, entre os sunitas e os xiitas, ainda hoje é causa de perturbação no mundo muçulmano. Os sunitas são os que respeitam a tradição (suna) transmitida através dos califas ortodoxos, enquanto que os xiitas se reportam à figura de Ali, genro do profeta (600-61). Os xiitas (homens do Partido) opunham-se à tendência dos teólogos e legisladores oficiais para se apoiarem exclusivamente numa interpretação do Alcorão. Alguns voltaram-se para um novo ou oculto líder, um Mahdi, e forneceram a base para movimentos revolucionários ao longo de toda a história islâmica. De modo geral, favoreceram a liderança carismática transmitida através dos imãs, descendentes de Ali e Fátima. Os ismaelitas e os fatímidas tornaram-se as mais importantes seitas xiitas, e os assassinos (século XII) a mais notória. Uma forte corrente mística expressou-se através do sufismo, influente nas cidades muçulmanas dos séculos VIII e IX. [DIM]

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