Será que estamos diante de um daqueles escritos preguiçosamente sincretistas que o hinduísmo filosófico, no declínio de seu poder criativo, produziu em abundância a partir do século XV ou XVI d.C.? Não, porque não há aqui nenhuma tentativa de reconciliar teses opostas, de apagar diferenças doutrinárias, de identificar um meio-termo. Pelo contrário, o Tripurāhasya, testemunhando o espírito mais autêntico do tantrismo, demonstra um ceticismo resoluto em relação a qualquer tipo de formulação teórica que pretenda ser definitiva e exclusiva. Opõe-se às teorias com o que a língua sânscrita designa pelo termo sādhana, um termo que traduzimos da melhor forma possível como “meio de progressão”, “instrumento de salvação”, “método de realização espiritual” e assim por diante. Ao mesmo tempo, não tem nada em comum com aqueles manuais escolares, de natureza puramente técnica ou mnemônica, que meramente relembram os estágios de uma progressão espiritual estereotipada e se mostram inutilizáveis, às vezes até ininteligíveis, fora do ensino oral bem definido que pretendem acompanhar. Seria mais preciso defini-lo como um local de meditação, constantemente renovado, sobre a lacuna que se amplia e se aprofunda constantemente entre as teorias metafísicas, sejam elas quais forem, e o curso normal da vida. O que é proposto aqui não é um novo caminho, um novo método, mais um sādhana específico, mas uma reflexão de segundo grau sobre os obstáculos sutis, de natureza intelectual ou existencial, que se interpõem no caminho de qualquer tipo de sādhana. Por que a compreensão intelectual do verdadeiro não se estende à realização intuitiva? Que preconceitos, que armadilhas linguísticas, que hábitos mentais, que desejos inconscientes estão agindo para impedir isso? Como esses obstáculos podem ser detectados e contornados? Essas são as perguntas para as quais o Tripurārahasya procura fornecer respostas, sem qualquer preocupação com ortodoxia ou afiliações sectárias estreitas. [DSDT]
Introdução
- Situação do texto
- Análise filosófica
- Estrutura narrativa e estrutura do texto
Capítulo I – Conversas nas montanhas
Capítulo II – Os viajantes na floresta
Capítulo III – O príncipe e a princesa
Capítulo IV – Diálogo sobre o Bem Soberano
Capítulo V – Uma história estranha
Capítulo VI – Razão e revelação
Capítulo VII – A soberania divina
Capítulo VIII – A chave do enigma
Capítulo IX – Alcançando o eu
Capítulo X – A cidade do conhecimento
Capítulo XI – O espelho espiritual
Capítulo XII – O mundo dentro da rocha
Capítulo XIII – A vida é um sonho
Capítulo XIV – Relatividade universal
Capítulo XV – A mulher asceta
Capítulo XVI – Sono e Samādhi
Capítulo XVII – O rei Janaka
Capítulo XVIII – Servidão e libertação
Capítulo XIX – A hierarquia dos sábios
Capítulo XX – A consulta à Deusa
Capítulo XXI – O demônio bramânico
Capítulo XXII – Epílogo