Não é preciso dizer que Platão se refere ao Líder (hegemon) que há dentro de nós com vários nomes, como Razão vocal (logos), Mente (noûs), Gênio (daimon) e a nossa parte mais divina (theiotatos) e a melhor de todas ou a que governa (kratistos) e eterna (aeigenes); nem precisamos ser relembrados de que esta Alma Imortal é “o nosso Eu real” (Leis, 959A) e “nós” temos de ser servos d’Ele (hyperetes, Leis, 645A, Timeu, 70D e outros); ou será que, de outra forma, “serás feito na terra como no céu”? Analogamente, esta divindade imanente é a “Alma da alma” (psyche psyches), de Fílon, o “Gênio Bom”, de Hermes (o agathos daimon), e o “Pastor”, de Hermas. É a “synteresis” escolástica, o Funkelein de Meister Eckhart e, se bem que atenuada, a nossa Consciência; mas de modo algum significa a nossa razão nem a intuição de Bergson. É o Espírito que as Escrituras (como observa São Paulo) distinguem claramente da alma; é o jam non ego, sed Christus in me dele (Hb 4,12 e Gl 2,20). É o “Si [Self] da pessoa, denominado ‘Líder Imortal”‘ (atmano’tma netamrtakhyah, Maitri Upanixade VI.7), o “Controlador Interior” (anta-ryamin, Brhadaranyaka Upanixade III.7.1 e outros), “Si (ou Espírito) e Rei de todos os seres” ou “de tudo que está em movimento ou em repouso” (Brhadaranyaka Upanixade I.4.16,11.1.2, RV.1.115,1 etc.), o Gênio imanente (yaksa) ou Atharva Veda Samhita X.8.43 e Jaiminiya Upanixade Brahmana IV.24 e o “Si imortal e incorpóreo” de Chandogya Upanixade VIII. 12.1, o “aquele” do famoso adágio “aquele que é vós”. E, do mesmo modo que em Platão, nos livros védicos este Homem Interior imortal e impassível que é o próprio Si vai morar junto com” o si humano, mortal e passivo na “casa” ou “cidade” do corpo durante todo o tempo em que “nós” vivermos. É deste “Espírito” (Santo) que “desistimos” quando morremos, e daí surge uma pergunta pungente: “Quando me for, em quem estarei indo?” (Prasna Up., VI.3); a resposta vai depender de estarmos “salvos” ou “perdidos”, conforme houvermos sabido antes do fim “quem somos” (Jaiminiya Upanixade Brahmana IV. 19.4,5, Brhadaranyaka Upanixade IV.4.14, Bhagavad Gita IV.40 etc). [AKCMeta]
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