VIDE: BRAHMAN
G. Van der Leeuw: LA RELIGION
A noção de mana se encontra mencionada pela primeira vez em uma carta do missionário R.H. Codrington, publicada por Max Muller em 1878: «mana é um nome melanésio designando o infinito». Estilo da época. Naturalmente, esta definição emanava de Muller. Codrington, em sua carta e no livro que publicou em 1891, dá uma característica bem maior: «é um poder ou uma influência; não é física; ela é em certo sentido sobrenatural mas se revela na força corporal ou em toda espécie de força e de capacidade possuída por um homem. Este mana não tem objeto determinado; quase não importa qual objeto é suscetível de veiculá-lo; espíritos… o possuem e podem comunicá-lo… De fato, toda religião melanésia consiste em adquirir para si mesmo este mana ou a fazer de sorte que ele se aplique em nosso benefício». Van der Leeuw analisa várias acepções do termo e estudos dos etnólogos, para chegar a seguinte proposta:
Pierre Gordon: A IMAGEM DO MUNDO NA ANTIGUIDADE
Frequentemente a realidade dinâmica que constitui o fundo do homem é concebida de uma maneira vaga e se identifica àquela que forma a essência interna dos outros seres. Esta força um pouco degradada leva em etnologia o nome de mana: esta denominação, admitida pelos cientistas para unificar seus dados, substitui toda uma série de vocábulos. Os malgaches, por exemplo, designam esta força pelo termo hasina (definido assim pelos dicionários: «virtude intrínseca e sobrenatural que torna uma coisa boa e eficaz; a virtude, a eficacidade de um remédio, a veracidade de uma palavra ou de uma profecia, a santidade de algo, a virtude dos amuletos e dos encantamentos; o adjetivo masina significa santo, santificado, poderoso, eficiente»). Os sioux a nomeiam wakan, os omahas wakanda, os iroqueses e os hurons orenda, os algoquinos manitou, os shoshones, pokunt, os tlinklits, Yek, os haidas, sgana; outros ameríndios a designam sob o nome de qube, de oki, etc.; o nagual do México e da América Central dele se aproximam. Assim se nomeiam esta mesma energia subterrânea, que sustenta as forças espaciais. Em geral, trata-se de uma energia considerada como não apropriada por natureza a seres pessoais. Frequentemente no entanto, esta energia é tida por incorporada por essência a pessoas: chega-se então no animismo. Não cremos que sendo dada a origem das noções relativas à energia subterrânea ou energia do mundo real, seja possível, nem mesmo útil, traçar uma fronteira entre estas duas concepções, ao redor das quais os etnólogos se confrontam em vão.
Em certos casos esta força ultrafísica se cinde em uma força boa e uma força má. O exemplo mais conhecido é aquele da baraka muçulmana, energia benfazeja que reside em Alá, nos santos, e que se comunica por contato material, como a eletricidade; esta força boa tem por contrapartida o ain (mau-olhado), ou ainda o naz’ra (olhar), ou por vezes o nafs ou nefs (sopro, espírito). Trata-se além do mais originalmente da mesma energia que se tornou benfazeja seguindo o pensamento que a utilizava. Em curso se operam a concreção e o espalhamento. A força dinâmica geral porta, ela, frequentemente, o nome bíblico de rouh ou rouah (sopro, espírito), algumas vezes nafs ou nefs.
Chegamos assim em noções mais desgastadas, mas em todo caso, seja sob o aspecto mana, sob o aspecto alma, espírito, duplo, anjo da guarda, ou sob o aspecto de dinamismo claramente individualizado, sempre temos que lidar com um poder invisível, uma realidade energética, oculta nas dobras da matéria espacial; e esta realidade oculta em parte alguma foi imaginada espontaneamente nem gratuitamente: ela é o produto direto das antigas crenças e práticas iniciáticas.