Fogo e luz são dois dos princípios (principia) discutidos por Boehme. Refletem-se em um terceiro. Há um fogo de natureza eterna, uma luz de poder divino e o ser do mundo observável, de natureza eterna e temporal. Para a completa manifestação do Nada, era necessário que fossem formadas criaturas que, a partir de sua própria liberdade, refletissem a majestade do divino de volta à sua fonte. Por essa razão, a natureza eterna foi criada desde a eternidade.
Esse terceiro princípio se manifesta em sete propriedades, qualidades ou, no termo geralmente usado em Caminho para Cristo, características. Deus criou por meio de Sua Palavra. Ele, que estava desde o princípio na Trindade, compreendeu em sua sabedoria os seres individuais. As sete características revelam progressivamente a Palavra. A primeira é a dureza, a concepção que Deus tem de Si mesmo. É seguida pela atração, seguida pelo pavor, o resultado das duas primeiras. A quarta é a ignição do fogo, a base da vida sensível e intelectual. Do fogo é emitida a quinta característica ou luz do amor, que dissipa o individualismo das quatro primeiras características. A sexta é o poder divino da fala; a sétima é a própria fala. Cada uma das sete características está presente em todos os seres e é uma imagem do movimento desde toda a eternidade. Além disso, são divisíveis em três, sendo que as três primeiras representam o primeiro princípio; a quinta e a sexta, o segundo princípio e a sétima, o terceiro. O quarto é o centro dessa natureza, sobre o qual tudo gira.
Como são livres, os seres do terceiro princípio podem se voltar para qualquer um dos outros dois. Se mantiverem o equilíbrio, tudo estará bem. Lúcifer, no entanto, recusou-se a aceitar o papel do princípio da luz e do amor dentro de si e voltou-se para o fogo em uma tentativa de controlar seu poder. Em sua tentativa de obter poder suficiente para estabelecer sua posição como senhor de todas as coisas, Lúcifer rompeu a unidade e voltou-se para o princípio do fogo que, sem o princípio moderador da luz (amor), era vivenciado por ele como ira. Procurou ser o fogo que emanava luz e descobriu que era fogo. Como resultado, caiu no reino de sua própria fantasia, em uma escuridão na qual a única luz disponível era aquela que ele mesmo formou e na qual ele e aqueles que o seguiram viviam. Bloqueado em sua posição anterior, se viu fantasiado na matéria, que havia sido preparada para ele.