O paradoxo da condição humana é que não há nada tão contrário a nós quanto a exigência de nos superarmos, e nada tão fundamentalmente nosso quanto a substância dessa exigência ou o fruto dessa superação.
Nossa deiformidade implica que nosso espírito é feito de absolutos, que nossa vontade é feita de liberdade e que nossa alma é feita de generosidade; dominar e superar a nós mesmos é remover a camada de gelo ou escuridão que aprisiona a verdadeira natureza do homem.
Uma das chaves para entender nossa verdadeira natureza e nosso destino final é o fato de que as coisas terrenas nunca são proporcionais à extensão real de nossa inteligência. Nossa inteligência é feita para o Absoluto, ou não é; somente o Absoluto permite que nossa inteligência seja inteiramente o que pode ser e seja inteiramente o que é. O mesmo se aplica à vontade, que, além disso, é apenas uma extensão da inteligência. O mesmo se aplica à vontade, que, além disso, é apenas uma extensão ou complemento da inteligência: os objetos que ela mais comumente propõe a si mesma, ou que a vida lhe impõe, permanecem abaixo de seu escopo total; somente a “dimensão divina” pode satisfazer a sede de nossa vontade ou nosso amor pela plenitude.
Quer queiramos ou não, vivemos cercados de mistérios que, lógica e existencialmente, nos levam à transcendência.
O caminho para Deus sempre envolve uma inversão: da exterioridade para a interioridade, da multiplicidade para a unidade, da dispersão para a concentração, do egoísmo para o desapego, da paixão para a serenidade.
O mundo nos dispersa e o ego nos comprime; Deus nos reúne e nos expande, Ele nos acalma e nos liberta.
Não importa o quanto o intelecto afirme verdades metafísicas e escatológicas, a imaginação — ou o subconsciente — continua a acreditar firmemente no mundo, não em Deus ou no além; todo ser humano é, a priori, um hipócrita. O caminho a seguir é justamente a passagem da hipocrisia natural para a sinceridade espiritual.
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