budismo tibetano

O budismo monástico indiano, disciplina (vinaya) dos Malasarvlstivadins, instala-se no Tibete em meados do século VIII; mas logo a meio do século IX todo o tipo de influências – em particular da China, mas também do tantrismo indiano – far-se-ão sentir. No século XI, dá-se um renascimento do budismo através de um regresso às origens indianas: o monge Atisa, o guru (lama) por excelência, é convidado para ir ao Tibete (1042-1054), onde um dos seus discípulos será o fundador da ordem monástica Bkagdams-pa; e Marpa o Tradutor (1012-1096) viaja para a Índia de onde traz para o Tibete uma forma de tantrismo ascético que lhe tinha ensinado o seu guru Naropa (956-1040) e que ele transmitirá por sua vez ao famoso Milarepa, guru de Sgam-po-pa, fundador da ordem Bka-brgyud-pa. Um discípulo de Sgam-po-pa, ao fundar a ordem Karma-pa («Chapéus Negros»), estabelecerá sobre os fatos esotéricos uma descendência sucessiva de Grandes Lamas. O procedimento será adotado por outras ordens, em particular os Dge-lugs-pa ou «Chapéus Amarelos» (século XIV), cujo chefe, o Dalai Lama, obterá no século XVII o exercício da autoridade civil no Tibete, sendo a autoridade espiritual da responsabilidade de um outro Grande Lama Amarelo residente no mosteiro de Tashilumpo.

Estabelecer distinções doutrinais entre estas ordens «ortodoxas» e as suas múltiplas ramificações seria uma tarefa demasiado ambiciosa para esta obra. Ao seu lado constituem-se em ordem os praticantes da religião pré-budista Bon (Bon-po) e os Budistas Antigos (Rnin-ma-pa), cujo primeiro guru seria Padmasambhava (século viu) e cujas práticas e doutrinas precedem, na maior parte dos casos, o renascimento do século XI.

Os Bon-po são francamente heterodoxos, excluídos da combinação das ordens budistas dominadas pelos Chapéus Amarelos. Se eles aspiraram a fazer parte delas, é porque as suas doutrinas se constituíram dialeticamente aquando da primeira penetração do budismo no Tibete. Os Bon-po recorreram ao argumento, adotado na antiguidade, de uma origem sagrada na obscuridade do país mítico ocidental Shambhala (Tazig) e de um Buda verdadeiro que não o impostor Sakyamuni. As suas práticas xamanistas e mágicas influenciaram muito os Antigos (Rnin-ma-pa ou Chapéus Vermelhos, uma das duas ordens que ostentam esta cor), que a reforma dos Chapéus Amarelos criados por Tsong-ka-pa (1357-1419) afeta principalmente o laxismo e as superstições mágicas.

Devido a esta oposição aos Chapéus Vermelhos que marca a constituição da ordem mais forte do budismo lamaísta do Tibete, não é surpreendente ver que os monges amarelos não estarão dispostos a aceitar a autenticidade das doutrinas dos monges vermelhos, enquanto outras ordens se mostrarão mais tolerantes para com eles. Para além disso, a situação será complicada pela prática, comum aos Antigos e aos Bon-po, de revelar a existência de «tesouros escondidos» (gter-ma), apócrifos atribuídos ao próprio Padmasambhava ou a outros veneráveis mestres e «encontrados» em locais escondidos ou muito simplesmente nas profundezas insondáveis do espírito de qualquer indivíduo. As escolas do budismo tibetano podem ser classificadas entre estes dois extremos representados pelos monges Amarelos e os Vermelhos.

O budismo lamaísta torna-se religião de Estado num outro país, a Mongólia, onde se propaga em duas vagas: no século XIII e no século XVI. [Eliade e Couliano]

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