Schuon (EPV) – Cinco – Pentagrama – Profeta

Quanto à Divindade focalizada do ponto de vista do número cinco, ela apresenta o caráter da Quaternidade, com a diferença de que as quatro funções são consideradas essencialmente em sua relação com o centro ou o ápice, num sentido estático e centrípeto, ou dinâmico e centrífugo. Se tomarmos como exemplo os elementos — terra, fogo, ar e água — nós os focalizaremos não em si mesmos, mas como modalidades do elemento central, o éter. Ou ainda tomando como exemplo as faculdades mentais — razão, intuição, imaginação, memória — considerar-se-á que tendem contemplativamente para o Intelecto, ou seja, que dele emanam operativamente. Quanto às quatro direções do espaço, elas também dependem de um centro, isto é, da consciência, que estabelece as relações espaciais. Esses exemplos refletem uma situação hipostática que não exporemos em detalhes após o que já dissemos.

A imagem desse número é o pentagrama: com o ápice para cima, caso se trate do aspecto estático e voltado para a Essência; com o ápice para baixo se, caso contrário, tratar-se do aspecto dinâmico e da tendência para a manifestação. A imagem do número cinco também pode ser a cruz, como observamos mais acima. A diferença é que na imagem crucial o centro está ainda mais implícito do que no pentagrama, onde se exterioriza de certa forma, e de centro passa a ser ápice; é como se o coração tivesse se tornado cérebro. Além disso, se a cruz combina a verticalidade e a horizontalidade, o pentagrama acentuará a distinção entre a superioridade e a inferioridade. Na cruz, a verticalidade torna-se a superioridade no pentagrama, de forma que, neste último, o eixo norte-sul está representado pelos dois ângulos superiores e o eixo leste-oeste pelos ângulos inferiores, equivalendo o ápice do pentagrama ao centro da cruz.

E isso indica que o pentagrama é realmente uma imagem do homem, mas também, e a priori, uma imagem do protótipo divino. Neste, a “Mão direita” (”sul”: Brandura) abre-se; a “Mão esquerda” (”norte”: Rigor) fecha-se; o “Pé direito” (”leste”: Atividade) aproxima-se; o “Pé esquerdo” (”oeste”: Passividade) afasta-se. No homem, a mão direita — sempre falando simbolicamente — realiza o bem; a mão esquerda evita ou impede o mal; o pé direito aproxima-se de Deus; o pé esquerdo afasta-se do mundo. Mais fundamentalmente, e conferindo às duas perfeições passivas o sentido positivo que comportam em primeiro lugar — pois “Minha Clemência precedeu à Minha Cólera” —, diremos que a Mão esquerda de Deus refere-se à Pureza, portanto, também à purificação do homem, ao passo que o Pé esquerdo refere-se à Imobilidade — e o homem que reza mantém-se de pé diante de Deus —, portanto, à Paz, como também à paciência e à gratidão.

Se o pentagrama se aplica a Deus ou ao homem, aplica-se igualmente, de maneira nova, ao encontro do humano com o divino no Avatara. O simbolismo islâmico disso nos fornece um exemplo explicitado, descrevendo o mistério do Profeta por meio dos cinco termos seguintes: o “Louvado” (Muhammad); o “Servidor” (Abd); o “Enviado” (Rasul); a “Bênção” (Çalât); a “Paz” (Salam). Aliás, as qualidades de “Servidor” e de “Enviado” concernem à natureza humana de Maomé: o homem “avatárico” é totalmente submisso a Deus e, por isso mesmo, serve de instrumento para Deus; a Revelação do divino pressupõe a extinção do humano. A essas duas qualidades ou funções se superpõem dois dons divinos, um que confere ao “Servidor” as graças equilibrantes, harmoniosas e tranquilizantes, e um outro que confere ao “Enviado” as graças fulgurantes, iluminadoras e vivificantes, isto é, precisamente a “Paz” e a “Bênção”. O ápice do pentagrama é o nome Maomé, que esotericamente designa o Logos na qualidade de “Luz maometana” (Nur muhammadi). Quando o pentagrama está invertido, e o ápice encontra-se portanto embaixo, o mesmo nome designa a personalidade humana e histórica do Profeta. A síntese desses cinco elementos cristaliza-se no epíteto “Amigo” (Habib), que implica de fato todo o mistério do Avatara.

Frithjof Schuon