ahamkara

Excertos de “Les Notions philosophiques”. PUF, 1990.

ahamkara — sânscrito, substantivo masculino
O ahamkara — literalmente: o fato de “fazer Eu”, quer dizer de enunciar a palavra “Eu” ou de tomar a palavra na primeira pessoa — é uma noção cujo uso propriamente filosófico é precedido de uma longa pré-história. A primeira menção conhecida deste termo se encontra no Chandogya Upanixade (VII, 25, I). Durante muito tempo, e notadamente através de toda a literatura religiosa dos Purana, o ahamkara aparece indissociável dos mitos cosmogônicos. Ele se relaciona a esta fase particular da manifestação na qual o absoluto — concebido como atman ou como purusha supremo — se constitui em ego e por aí mesmo em “pessoa” divina e em criador potencial. Representa portanto, no interior do absoluto, a cristalização de um polo-sujeito em face do qual, correlativamente, a objetividade se prepara a aparecer. A este estado, logo, o ahamkara não designa ainda de maneira alguma o “eu” do sujeito individual finito.

Com o Samkhya clássico se opera uma transição decisiva. O ahamkara se apresenta doravante como um dos princípios constitutivos tattva deste microcosmo que é a pessoa humana. Por um lado, sua situação particular sobre a escala dos princípios porta ainda o traço de seu antigo papel cosmogônico: é a partir do ahamkara — segundo ele é dominado pelo atributo do sattva ou do tamas — que o desdobramento da manifestação bifurca de um lado para o “sentido de conhecimento”, de outro para os “elementos sutis” (tanmatra) dos quais procedem por sua vez os elementos grosseiros. Por outro lado, e pela primeira vez, o ahamkara aí aparece claramente como a expressão mesma da confusão funesta entre o Espírito (purusha) e a Natureza (prakriti). É em particular o que se entende — por implicação negativa — da estrofe sexagésima quarta dos Samkhyakarika consagrada à discriminação decisiva do Espírito e da Natureza: “Assim, de um estudo repetido dos princípios brota um conhecimento que se exprime assim: ‘Eu não sou; nada é a mim; não há Eu “, e este conhecimento é completo, livre de erro, absoluto”.

Existe um excelente livro de Michel Hulin, dedicado exclusivamente ao estudo do que denomina “O PRINCÍPIO DO EGO NO PENSAMENTO INDIANO CLÁSSICO — A NOÇÃO DE AHAMKARA

Henri le Saux

ahamkara: “a função do eu”, o terceiro elemento do órgão interno (antahkarana). É na ordem intelectual, o princípio de individualização da consciência, a raiz da organização de nossa experiência e de nossa vida psicológica como experiência do eu…; na ordem prática e moral, a origem do querer-viver, do egotismo e mesmo do egoísmo, por causa da individualização e da limitação que ele “significa” (O. Lacombe, op. cit., p. 141).

René Guénon

Es en virtud de la doble relación que acaba de indicarse (v. Deuses), y de este papel de intermediario entre la personalidad y la individualidad, por lo que, a pesar de todo lo que hay necesariamente de inadecuado en una tal manera de hablar, se puede considerar al intelecto como pasando en cierto modo del estado de potencia universal al estado individualizado, pero sin dejar de ser verdaderamente tal cual era, y solamente por su intersección con el dominio especial de algunas condiciones de existencia, condiciones por las que se define la individualidad considerada; y produce entonces, como resultante de esta intersección, la consciencia individual ( ahamkara ), implícita en el “alma viva” ( jivatma ) a la cual es inherente. Como ya lo hemos indicado, esta consciencia que es el tercer principio del Sânkhya, da nacimiento a la noción de “yo” ( aham, de donde el nombre de ahamkara, literalmente “lo que hace el yo” ), ya que tiene como función propia prescribir la convicción individual ( abhimâna ), es decir, precisamente la noción de que “yo soy” concernido por los objetos externos ( bâhya ) e internos ( abhyantara ), que son respectivamente los objetos de la percepción ( pratyaksha ) y de la contemplación ( dhyana ); y el conjunto de estos objetos se designa por el término idam, “esto”, cuando se concibe así por oposición con aham o el “yo”, oposición completamente relativa por lo demás, y bien diferente en eso de la que los filósofos modernos pretenden establecer entre el “sujeto” y el “objeto”, o entre el “espíritu” y las “cosas”. Así, la consciencia individual procede inmediatamente, pero a título de simple modalidad “condicional”, del principio intelectual, y, a su vez, produce todos los demás principios o elementos especiales de la individualidad humana, de los cuales vamos a tener que ocuparnos ahora.

Ananda Coomaraswamy

«”Yo” no hago nada, así debe saberse el hombre arnesado, el conocedor de la Realidad Última» (Bhagavad Gita V.8). «Yo no hago nada por mí mismo» (San Juan 8:28, cf. 5:19). Pensar que «”yo” hago» (karto ham iti) o que «”yo” pienso”» es una infatuación, la oiesis de Filón (Leg. Alleg. 1.47, 2.68, 3.33) y el abhimana indio. La proposición Cogito ergo sum, es un non sequitur y un sin sentido; la verdadera conclusión es Cogito ergo EST, y se refiere al «que Es» (Damasceno, De fid. orthod. I; Katha Upanishad VI.12; Milindapanha p. 73) y al único que puede decir «yo» (Maestro Eckhart, Pfeiffer, p. 261). Cf. las referencias en mi «Akimcanna: la Anonadación de Sí mismo», New Ind. Antiquary 1940.
«Nichts anders stürzet dich in Höllenschlund hinein
Als das verhasste Wort (merk’s wohl!): das Mein und Dein»».
Nada será arrojado tan inmediatamente adentro de las fauces del Infierno como las detestables palabras (obsérvalas bien!) mío y tuyo (Angelus Silesius, Der Cherubinische Wandersmann v.238.)

Índia e China