Schuon (UTR) – João Damasceno

UNIDADE TRANSCENDENTE DAS RELIGIÕES

  • … lembremos igualmente o início da primeira Epístola aos Coríntios, dirigia «a todos aqueles que invocam, em qualquer lugar que seja, o Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo», e também, na primeira Epístola aos Tessalonicenses, a injunção de «orar sem cessar», que São João Damasceno comentas nestes termos: “É preciso aprender a invocar o Nome de Deus mas do que se respira, a todo momento, em todo lugar e durante toda ocupação. O Apóstolo diz: Orai cem cessar; quer dizer, ensina que se deve lembrar de Deus a todo momento, em todo lugar e durante toda ocupação”. Neste comentário de São João Damasceno, as palavras “invocar” e “lembrar-se” aparecem para descrever ou ilustrar uma mesma ideia; ora, sabe-se que a palavra árabe dhikr significa ao mesmo tempo “invocação”e “lembrança”; no budismo igualmente, “pensar no Buda” e “invocar” o Buda se exprime por uma única palavra (buddhanusmriti; o nienfo chinês e o nembutsu japonês). É digno de notar que os Hesicastas e os Dervixes designam a invocação pela mesma palavra: os Hesicastas denominam “trabalho” a recitação da “oração de Jesus”, enquanto os Dervixes denominam “ocupação” ou “afazer” (shughl) toda invocação.
  • Não é sem razão que os Hesicastas consideram a invocação do Nome de Jesus como legado de Jeus aos Apóstolos: “É assim — diz a Centúria dos monges Calisto e Inácio — que nosso misericordioso e bem-amado Senhor Jesus Cristo, no momento que se aproximava de Sua Paixãolivremente aceita para nós, da mesma maneira que no momento onde após sua Ressurreição Ele se mostrou visivelmente aos Apóstolos, e mesmo quando Ele Se apressou a subir ao Pai… legou aos Seus estas três coisas (a invocação de Seu Nome, a Paz e o Amor, que corresondem respectivamente à , à Esperança e à Caridade)… O início de toda atividade de amor divino é a invocação confiante do Nome alvador de Nosso Senhor Jesus Cristo, assim como Ele disse Ele mesmo (Jo XV,5): Sem Mim nada podeis fazer… Pela invocação confiante do Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, esperamos firmemente obter Sua Misericórdia e a verdadeira Via oculta nEle. Ela se assemelha a uma outra Fonte divina que jamais seca (Jo IV,14) e que faz brotar estes dons quando o Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo é invocado, sem imperfeição, no coração”.
  • Citemos ainda esta passagem de uma Epístola (Epístola aos monges) de São João Crisóstomo: “Entendi dizer os Padres: Que é este monge que abandona a regra e deprecia? Ele deveria, quando come e bebe, e quando está sentado ou serve os outros, ou quando anda ou o que quer que faça, invocar sem cessar: Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim”… Persevera sem cessar no Nome de Nosso Senhor Jesus, a fim de que teu coração beba o Senhor e que o Senhor beba teu coração, e que assim os dois se tornem Um!”
  • Esta fórmula (Kyrie Eleison) se reduz frequentemente sobretudo nos espirituais mais avançados na via, ao simples Nome de Jesus. — “O meio mais importante da vida da oração é o Nomes de Deus, invocado na oração. Os ascetas e todos aqueles que levam uma vida de oração, desde os anacoretas da Tebaide e os hesicastas do Monte Atos…, insistem sobretudo sobre esta importância do Nome de Deus. Fora dos Ofícios, existe para todos os Ortodoxos uma regra de orações, composta de salmos e de diferentes oração; para os monges ela é muito mais considerável. Mas o que é mais importante na oração, o que constitui o coração mesmo da oração, é o que se denomina a oração de Jesus: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim pecador!” Esta oração repetida centenas de vezes e mesmo indefinidamente, forma o elemento essencial de toda regra de oração monástica; ela pode, na necessidade, substituir os Ofícios e todas as outras orações, pois seu valor é universal. A força desta oração reside não em seu conteúdo, que é simples e claro (é a oração do pedinte), mas no Nome muito doce de Jesus. Os ascetas testemunham de que este Nome guarda a força da presença de Deus. Não somente Deus é invocado por este Nome; mas Ele já está presente nesta invocação. Pode-se afirmá-lo certamente de todo Nome de Deus; mas deve-se dizer sobretudo do Nome divino e humano de Jesus, que é o Nome próprio de Deus e do homem. Em resumo, o Nome de Jesus, presente no coração humano, lhe comunica a força da deificação que o Redentor nos acordou S. Boulgakoff, a Ortodoxia).
  • “O Nome de Jesus — diz São Bernardo — não é somente luz; é também alimento. Todo alimento é muito seco para ser assimilado pela alma se não é adocicado por este condimento; é muito insípido, se este sal não lhe retira o sem gosto. Não encontro qualquer gosto nestes escritos, se aí não posso ler este Nome; qualquer gosto em teu discurso se aí não o entendo que ressoa. Ele é mel para minha bôca, melodia para meu ouvido, alegria para meu coração, mas também um remédio. Qualquer um de vós se sente desolado de tristeza? Que saboreie então Jesus da bôca e do coração, e eis que à luz de Seu Nome toda nuvem se dissipa e o céu se torna sereno. Qualquer um se deixou levar por uma falta, experimenta a tentação do desespero? Que invoque o Nome da Vida, e a Vida o reanimará”. (Sermão 15 sobre o Cântico dos Cânticos).

Perenialistas – Referências