Schuon (EPV) – Tipos de Véus

O Véu pode ser espesso ou transparente, único ou múltiplo; ele vela ou desvela, de modo violento ou suave, súbito ou progressivo; ele inclui ou exclui e, assim, separa duas regiões, uma interior, outra exterior. Todas essas formas se manifestam no microcosmo assim como no macrocosmo, ou na vida espiritual como também nos ciclos cósmicos.

O Véu impenetrável subtrai ao olhar algo muito sagrado ou muito íntimo; o véu de Isis sugere as duas relações, uma vez que o corpo da Deusa coincide com o Santo-dos-Santos. O “sagrado” refere-se ao aspecto divino Jalâl, a “Majestade”; o “íntimo”, por seu lado, refere-se ao Jamâl, à Beleza; Majestade deslumbrante e Beleza inebriante. O véu transparente, em compensação, libera tanto o sagrado quanto o íntimo, como um santuário que abre sua porta, ou como uma noiva que se entrega, ou como um noivo que acolhe e toma posse.

Quando o Véu é espesso, esconde a Divindade: ele é feito das formas que constituem o mundo, mas existem também as paixões da alma. O Véu espesso é tecido com os fenômenos sensoriais à nossa volta e com os fenômenos passionais em nós mesmos; e notemos que um erro é um elemento passional na medida em que é relevante e o homem nele se envolve. A espessura do Véu é simultaneamente objetiva e subjetiva no mundo e na alma: é subjetiva no mundo na medida em que nosso espírito não penetra a essência das formas, e é objetiva na alma no sentido de que as paixões ou os pensamentos são fenômenos.

Quando o Véu é transparente, revela a Divindade: ele é feito de formas na medida em que elas comunicam seus conteúdos espirituais, quer os compreendamos ou não. De modo análogo, as virtudes deixam transparecer as Qualidades divinas, ao passo que os vícios indicam sua ausência ou, o que dá no mesmo, o seu contrário. A transparência do Véu é simultaneamente objetiva e subjetiva, o que entenderemos sem dificuldade depois do que acabamos de dizer. Pois se, por um lado, as formas são transparentes, não do ponto de vista de sua existência, mas do ponto de vista das suas mensagens, por outro, nosso espírito torna-as transparentes graças à sua penetração. A transcendência torna o Véu espesso; a imanência torna-o transparente, no mundo objetivo ou em nós mesmos, em virtude de nossa conscientização quanto à Essência subjacente, embora, de um ponto de vista bem diferente, a compreensão da transcendência é um fenômeno de transparência, ao passo que o usufruto natural do que nos é oferecido em virtude da imanência é, evidentemente, um fenômeno de espessura.

A ambiguidade do Véu expressa-se, no Islamismo, mediante as duas noções de “abstração” (tanzîh) e de “semelhança” (tashbîh). Do primeiro ponto de vista, a luz sensível nada é aos olhos da Luz divina, que “é” única; “nada se lhe assemelha”, diz o Corão, proclamando assim a transcendência. Do segundo ponto de vista, a luz sensível “é” a Luz divina — ou “não é outra” senão esta —, manifestada em determinado plano da existência, ou através de certo véu existencial. “Deus é a Luz dos céus e da terra”, diz ainda o Corão; portanto, a luz sensível se lhe assemelha, ela “é Ele” de um determinado ponto de vista, o da imanência. A “solidão” mística, khalwah, cuja expressão ritual é o refúgio espiritual, corresponde à “abstração” metafísica; a “semelhança” propicia a graça da “resplandecência”, jalwah, cuja expressão ritual é a invocação de Deus praticada em comum. Por um lado, mistério de transcendência ou de “contração” (qabd) e, por outro, mistério de imanência ou de “dilatação” (bast); a khalwah elimina do mundo; a jalwah transforma-o em santuário.

Segundo uma teoria de Ibn Arabi, Adão e Maomé se correspondem no sentido de que um e outro manifestam a síntese — inicial no primeiro caso e terminal no segundo —, ao passo que Seth e Jesus se correspondem no sentido de que o primeiro manifesta a exteriorização dos dons divinos, e o segundo, sua interiorização por volta do fim do ciclo. Apresentamos aqui o sentido, não as palavras dessa doutrina. Poder-se-ia igualmente dizer que Seth manifesta o tashbih, a “semelhança” ou a “analogia”, portanto, o simbolismo, a participação do humano no divino e que, inversamente, Jesus manifesta a “abstração”; portanto, a tendência para um puro “além”, pois o reino de Cristo não é deste mundo. Adão e Maomé manifestam, então, o equilíbrio entre o tashbih e o Tanzih, Adão a priori e Maomé a posteriori. Seth, o revelador dos ofícios e das artes, ilumina o véu da existência terrestre; Cristo rasga o véu obscuro; o Islamismo, como Religião primordial, combina as duas atitudes.


Ao lado da palavra hijab, “véu”, existe também a palavra sitr, que significa simultaneamente “cortina”, “véu”, “cobertura” e “pudor”; assim como satír, “casto”, e mâstur, “pudico”. Do ponto de vista sexual, vela-se o que sob diferentes aspectos é terrestre e celeste, decaído e incorruptível, animal e divino, a fim de se proteger contra a eventualidade quer de uma humilhação, quer de uma profanação, dependendo das perspectivas ou circunstâncias.

Existem sedas cambiantes em que duas cores opostas aparecem alternadamente numa mesma superfície, dependendo da posição do tecido. Este jogo de cores evoca a ambiguidade cósmica, ou seja, a mistura de “proximidade” (qurb) e de “afastamento” (bu’d) — diríamos, naturalmente, de grandeza e de pequenez — que caracteriza o tecido de que o mundo é feito e de que somos feitos. Isto nos conduz à questão da atitude subjetiva do homem diante da ambiguidade objetiva do mundo: o homem nobre e, portanto, o homem espiritual, vê nos fenômenos positivos a grandeza substancial e não a pequenez acidental, mas é efetivamente obrigado a discernir a pequenez quando ela é substancial e, em consequência, determina a natureza de um fenômeno. Ao contrário, o homem vil e, às vezes, o homem simplesmente mundano, vê o acidental antes do essencial e prende-se à consideração dos aspectos de pequenez que entram na constituição da grandeza, mas que não podem de forma alguma diminuir sua importância, exceto aos olhos do homem, ele próprio feito de pequenez.

E evidente que as duas cores cambiantes podem ter um significado exclusivamente positivo: atividade e passividade, rigor e brandura, força e beleza e outras complementaridades. O Véu universal comporta um jogo de contrastes e choques, bem como, e até mesmo de modo mais profundo ou mais positivo, um jogo de harmonia e de amor.

Frithjof Schuon