Schuon Verdade Presença

Frithjof Schuon — Forma e Substância nas Religiões
Resumo e excertos
Verdade e Presença
A manifestação salvadora do Absoluto é ou Verdade, ou Presença, mas não é nem uma nem outra de uma maneira exclusiva; pois Verdade, ela comporta a Presença, e Presença, ela comporta a Verdade. Eis a dupla natureza de todas as teofanias; assim, o Cristo é essencialmente uma manifestação de divina Presença, mas é por aí mesmo Verdade: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. Ninguém chega à proximidade salvadora do Absoluto se não é pela manifestação do Absoluto, quer seja a priori Presença ou Verdade.

No cristianismo, o elemento Presença prima o elemento Verdade: o primeiro elemento absorve por assim dizer o segundo, neste sentido que a Verdade se identifica ao fenômeno do Cristo; a Verdade cristã, é a ideia que o Cristo é Deus. Disto resulta da doutrina trinitária; esta não se explicaria se o ponto de partida no cristianismo fosse o elemento Verdade, quer dizer uma doutrina do Absoluto, como é o caso no Islã onde Deus se apresenta antes de tudo como Real Um, na medida onde um exoterismo semítico o permita.

Predominância do elemento Verdade no Islã

A priori ou exotericamente, o elemento Verdade no cristianismo, dissemos, é o axioma que o Cristo é Deus, e que só o Cristo é Deus; mas a posteriori ou esotericamente, a Verdade crística significa, por um lado que toda manifestação do Absoluto é idêntica ao Absoluto, e por outro lado que esta manifestação é ao mesmo tempo transcendente e imanente. Transcendente, ela é o Cristo acima de nós; imanente, ela é o Cristo em nós mesmos; ela é o Coração que é ao mesmo tempo Intelecto e Amor. Entrar no Coração, é entrar no Cristo, e inversamente; o Cristo é o Coração do macrocosmo como o Intelecto é o Cristo do microcosmo. “Deus se tornou homem a fim de que o homem se torne Deus”: o Si se tornou Coração a fim de que o Coração se torne o Si mesmo; e é por isso que o “reino de Deus está dentro de vós”.

A gnose, lugar de encontro entre o Islã e o Cristianismo

O Cristo e o Profeta

Causa de um mal-entendido entre cristãos e muçulmanos

Do “poder de Si-mesmo” e do “poder do Outro” no [?Amidism]

Zen e [?Jodo], [?Shinran] e [?Honen]

O Budismo e o jiriki/tariki

Na constituição natural do homem, o elemento Verdade é representado pelo Conhecimento, e o elemento Presença pela virtude.
-No Islã, os termos çalah e salam, “bendição” e “paz” — adicionados ao nome do Profeta — se referem respectivamente as estes dois elementos, abstração feita das significações mais imediatas.

O Conhecimento só é perfeito graças a um certo concurso da virtude, e inversamente; é evidente que a inteligência bem aplicada pode produzir ou reforçar a virtude posto que ela dela nos explica a natureza e a necessidade; é também evidente que a virtude por seu lado pode favorizar o Conhecimento posto que ela dele determina certos modos. Dito de outro modo, conhecemos a Realidade metafísica, não somente porque compreendemos ou concebemos, mas também porque queremos, logo porque somos; pois nosso conhecimento de Deus não pode ser outra coisa que o que é Deus Ele mesmo,e Deus é Majestade e Beleza (em árabe Jalal e Jamal); ora a Beleza do Objeto não se compreende plenamente senão pela beleza do sujeito. A Realidade universal é ao mesmo tempo geométrica e musical, intelectual e existencial, “abstrata” ou incomparável (tanzih) e “concreta” ou análoga (tashbi), transcendente e imanente; a “Verdade” é como um fogo que queima o mundo dos acidentes para não deixar subsistir senão a Substância intangível, enquanto que a “Presença” ao contrário nos torna tangível esta mesma Substância, através dos acidentes translúcidos que a revelam segundo modos variados e inumeráveis.



Frithjof Schuon