bhakti

AMORBHAKTI — BAHKTA

VIDE: OLIVIER LACOMBE — RÂMÂNOUDJA e CITAÇÕES SOBRE BHAKTI (nosso site francês)


sânscrito, substantivo feminino = FERVOR DEVOCIONAL

Excertos comentados de “Les Notions philosophiques. PUF, 1990
Derivado da raiz verbal BHAJ-, a qual se dará na forma ativa por “distribuir, dar em partilha”; na forma média, por “receber em partilha, tomar parte”. A mesma raiz deu o vocábulo bhaga, a boa parte, a felicidade; donde a denominação Bhagavad para designar a Deidade suprema, bem-aventurada, fonte de graça liberadora e beatificante (título do poema sagrado Bhagavad Gita, Canto do Bem-aventurado). A bahkti é a aceitação amante deste dom divino, a participação no Deus amante. O adepto desta via se denomina bhakta.

A tradição bramânica reconhece na prática da bhakti um dos quatro caminhos de liberação, ao lado dos caminhos do conhecimento, da ação esclarecida e desinteressada, da disciplina psicossomática do yoga.


VEDANTA
Henri le Saux

bhakti: esse termo designa a devoção de amor para com o Senhor, considerado ao menos de certo modo, ou então provisoriamente, como “outro que não si mesmo” ou o “outro”. Essa devoção se expandiu particularmente no Krishnaísmo e no Shivaísmo dravidiano. Está raramente ausente da alma hindu, pois os jnanin exclusivos são raros. O perfeito jnanin e advaítino que era Sri Ramana Maharshi derramava lágrimas de alegria quando cantava ou ouvia cantar os louvores do Senhor (Cf. p. ex. S. S. Cohen, Guru Ramana, pp. 6, 79, etc). O livro sagrado por excelência da bhakti é a Bhagavad Gita. A bhakti hindu reveste-se de muitas formas, desde a devoção emotiva e sentimental de um Chaitanya (prema-bhakti), ou a bhakti, tocando às raias (?) do erotismo, dos discípulos de Vallabha, até a bhaktisabedoria de amor” de Râmânudja e seus grandes discípulos. Para Râmânudja, a bhakti, que é a sabedoria suprema, “culmina numa intuição da essência de Brahman, que é participação ao mesmo tempo intelectual e afetiva de seu objeto; é um conhecimento amante, intuitivo, experimental, do “Bem-aventurado” (Bhagavan) em sua suprema e íntima personalidadade”. Çri Nivâsa acrescenta a prapatti, a entrega de si mesmo ao Senhor, na humildade. “Essa participação de amor, forma suprema de conhecimento (jnãna) não exclui nem a graça nem a personalidade divina, nem a realidade eterna das almas enquanto metafisicamente distintas, mas ao contrário depende delas e as supõe essencialmente” (O. Lacombe, L’ABSOLU SELON LE VÊDÂNTA, p. 363 ss). É evidente que, para Sankara, o termo bhakti está longe de ter uma ressonância semelhante e não inclui normalmente aspectos de conhecimento (jnana), como no sistema rival. Na escola çivaíta çankariana, a mais seguida, talvez, na índia atual, essa devoção de amor a um Deus pessoal e “outro” é considerada como um simples grau da vida espiritual; é praticada com resultado até o dia em que a alma descobre enfim a indistinção não qualificada entre si mesma e o Brahman; seu conhecimento, seu amor, sua felicidade, funde-se então naquilo que o homem chama um “vazio”, çunya, incapaz de perceber a insondável Plenitude, puma, da Vida do Saccidânanda.


PERENIALISTAS
René Guénon: LAS TRES VÍAS Y LAS FORMAS INICIÁTICAS
En lo que concierne a Bhakti, el caso es bastante diferente, y aquí los errores provienen sobre todo de una confusión del sentido iniciático de este término con su sentido exotérico, que por lo demás, a los ojos de los occidentales, toma casi forzosamente un aspecto específicamente religioso y más o menos «místico» que no puede tener en las tradiciones orientales: ciertamente, eso no tiene nada que ver con la iniciación, y, si no se tratara realmente de nada más, es evidente que no podría haber «BhaktiYoga»; pero esto nos lleva una vez más a la cuestión del misticismo y de sus diferencias esenciales con la iniciación.

Frithjof Schuon: O ESOTERISMO COMO PRINCÍPIO E COMO VIA
*A bhakti ou o amor da Divindade pessoal é, para o vedânti shankariano, uma etapa necessária para a Liberaçãomoksha — e até mesmo uma concomitância quase indispensável e bem natural do conhecimento supremo, o jnâna. Por um lado, o culto segundo o qual a transcendência encaminha o espírito para a consciência da imanência e, portanto, da identidade, por conseguinte, para a superação da dualidade e da separatividade; por outro lado, a consciência da transcendência e a bhakti que dela resulta estão intimamente ligadas à própria alma do homem. Quem diz “homem” diz bhakta e quem diz “espírito” diz jnani. A natureza humana é, por assim dizer, composta por essas duas dimensões semelhantes, mas incomensuráveis. Por certo, há uma bhakti sem jnana, mas não existe jnana sem bhakti.

François Chenique: O IOGA ESPIRITUAL DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS

No caminho do amor ou da bondade, a alma ia das criaturas para o Criador e as aparências deste mundo eram, ao mesmo tempo, utilizadas como um pressentimento da Beatitude divina, e rejeitadas por causa de seus limites (v. Vias). No caminho do conhecimento, essa diligência continua, mas se completa por uma diligência que vai do Criador às criaturas, e na qual o mundo criado, exterior e interior, torna-se uma “ilustração” do Conhecimento principal e imutável. Trata-se, para a alma contemplativa, de reconhecer e não de rebuscar, de mostrar e não de demonstrar, de despertar em outrem o mesmo conhecimento e não de discutir (v. Boaventura). O exemplar divino é reconhecido em toda parte, amado e proclamado, como “causa do ser, razão do conhecimento e regra de vida” (causa essendi, ratio intelligendi, ordo vivendi)[fórmula de Santo Agostinho (Cité de Dieu, VIII, 4), citada no Itinerarium I, 14]. Entretanto, as condições do caminho do conhecimento são severas:
“O que quer subir para Deus deve evitar o pecado que deforma a natureza e submeter seus poderes naturais à graça reformadora, pela prece (oratio), pela justiça purificadora, através da ascese (conversatio), pela ciência iluminadora, através da meditação, pela sabedoria aperfeiçoadora, através da contemplação. Como ninguém chega à sabedoria a não ser pela graça, a justiça e a ciência, também não se chega à contemplação a não ser através de intensa meditação, de uma ascese santa, uma oração fervorosa. Como a graça é o fundamento de uma vontade reta e de uma razão esclarecida, precisamos, antes de mais nada, orar, depois viver santamente, e, por fim, voltar nossa atenção para as imagens da verdade e elevar-nos assim, aos poucos, até a montanha suprema onde, no Sião, o Deus dos deuses se revela [Itinerarium, I, 8. O fim da passagem é uma citação do Salmo 84, segundo a Septuaginta e a Vulgata].

Ananda Coomaraswamy:
*ASPECTOS BHAKTA DE LA DOCTRINA DEL ATMAN
*BAHKTI

Índia e China