Há dois septenários. Um diz respeito à alma humana; o outro, aos poderes íntimos das coisas. Como vimos, Gichtel diz que a Serpente gera “sete estados”, que são os “sete selos que impedem o não regenerado de perceber o fogo divino”. Esse septenário é um septenário da paixão. Seus elementos correspondem aos seres dos planetas — como emanações deles na alma que, tendo se tornado externa, vive apenas de paixões e emoções individuais. Deve-se notar que o septenário transcrito na Prancha IV de Gichtel, cujo centro está localizado no coração, é precisamente esse septenário (de fato, na tabela do “Homem das Trevas”, as paixões são indicadas perto de cada centro: a corresponde o orgulho; a ♃, a avareza; a ☿ a raiva; a ♂, a inveja; a ☉ cercado pela serpente, o amor-próprio — ☿ e ☽ não tendo nenhuma legenda). Por outro lado, o septenário de que fala o Tantra, situado no muladhara, no lugar “infernal” do corpo restaurado (figs. I e II), é o septenário superior, eônico e elementar1. O Sol do coração seria simplesmente o centro da pessoa psicológica, enquanto o muladhara seria o centro das forças ocultas e verdadeiramente elementares do corpo. Para Gichtel, por outro lado, isso corresponderia ao misterioso “globo” situado ainda mais “abaixo” (ou seja, na verdade, mais para dentro) do que o coração, e sem o qual é impossível entrar em contato com o poder original ou, graças a ele, com os planetas, até que o corpo cósmico e celestial seja completamente reintegrado. Para passar de um plano para o outro, devemos cortar as sete cabeças do Dragão, ou seja, libertar a alma das sete formas de paixão — começando com o orgulho e terminando com o amor-próprio, enraizado no próprio coração — que, de fato, constituem os sete anéis com os quais a serpente a envolve, bloqueando o caminho para o desenvolvimento espiritual. No esoterismo, essa operação preliminar de catarse assume o simbolismo de “desnudação” e “lavagem”.
A adequação de tal visão é confirmada pela seguinte passagem de Gichtel: “A alma procura arrancar sua vontade da constelação exterior e ir a Deus em seu centro, abandonar totalmente o que é visível e passar pela forma vocálica do Fogo — e isso requer um trabalho árduo, que faz suar sangue e água, pois a alma nesse momento deve lutar contra Deus e os homens, etc.”. (Intr. § 8). A forma de oitava do Fogo é o ponto de entrada depois de passar além do septenário externo — e é o limiar da “descida ao inferno”, a ser seguida pela “ressurreição”.
Nas correntes próprias da Gnose Ofita relatadas por Irineu (Haeres, I, 30, 5), também se fala de dois septenários ou “hebdomadários”, um superior e celestial, o outro “infernal”, chamado “a serpente sétupla [no feminino], filha de Jaldabaoth”. Jaldabaoth é o “Deus da Terra” — em oposição ao Deus “pneumático” — correspondente ao Diabo no Spiritus Mundi de Gichtel; e seu septenário seria precisamente aquele que reina sobre a alma do homem negro terrestre: — Orígenes (C. Celsum, VI, 25 ss.) fala de um diagrama, também ofita, dividido em três espaços. O do meio contém 10 círculos circunscritos por um maior, todos com o nome de Leviathan, e agrupados da seguinte forma, ao que parece: 3 de um lado e 7 do outro. O espaço inferior compreende sete círculos de sete demônios ou arcontes, e é chamado de Behemoth. Obviamente, estamos vendo o mesmo simbolismo. As duas “Grandes Bestas”, que já aparecem em Jó (XL 15-24), parecem representar nessas tradições: Leviathan, o “Senhor do Oceano” (“Águas Superiores” — ternário divino e septenário superior) e Behemoth, o “Senhor da Terra Seca” (a “aridez ígnea” de Gichtel, a zona dominada pelo desejo). Em Esdras IV (VI, 49-52), elas são retratadas devorando os “injustos”; por outro lado, na Era Messiânica, as mesmas bestas se tornarão o alimento (ambrosia) dos “justos” (cf. The Book of Enoch, trans. Charles, p. 155 n. 7). O corpo da “Grande Besta” seria então transformado no corpo do “Grande Homem” (cf. G.R.S. Mead, “Thrice-Greatest Hermes”, Londres e Benares, 1906, t. I. p. 423). Quanto ao espaço intermediário, ele poderia corresponder à “oitava forma de fogo” — mas os gnósticos também falam de uma “ogdoade” além das “hebdomades”. ↩